segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Krokodil: droga semelhante à heroína é a mais mortal do mundo

Krokodil: droga semelhante à heroína é a mais mortal do mundo [galeria]
Cerca de dez anos atrás, os médicos russos notaram o aparecimento de ferimentos e marcas no corpo de alguns dependentes químicos. Pacientes em hospitais da Sibéria e do Extremo Oriente da Rússia apresentavam pedaços de carne que tinham uma coloração escura e começavam a descamar, como se fosse a pele de um crocodilo.
Em pouco tempo, eles descobriram o que causava tal reação no corpo: os pacientes estavam injetando uma nova droga que foi batizada, como era possível prever, de “krokodil”. Embora a palavra signifique “crocodilo” em russo, alguns defendem que o nome da substância vem de um dos principais compostos da droga, a alfa-clorocodida.
Na mesma época, vídeos que mostravam os efeitos da droga devastadora – que recebeu o nome de desomorfina quando foi inventada para uso médico em 1932 – logo surgiram na internet. Apesar do uso da substância como entorpecente ter surgido na Rússia, acredita-se que a droga já tenha chegado aos Estados Unidos e tudo indica que podemos ter uma epidemia em breve.

O preço do vício

Um dos principais motivos para o grande uso e a disseminação da krokodil é que se trata de uma substância fácil de ser produzida – qualquer pessoa consegue preparar a droga com ingredientes encontrados em farmácia e alguns utensílios de cozinha.
O ingrediente ativo da krokodil é a codeína, um opioide leve que pode ser encontrado com facilidade em muitos países. Os usuários misturam a codeína com uma série de outros ingredientes, como thinner, ácido clorídrico, fósforo (que eles raspam de caixas de fósforo), entre outros.
A preparação da krokodil consiste em moer as pílulas de codeína e misturá-las com iodo, ácido clorídrico e outras substâncias químicas. A imagem de abertura mostra esse processo de preparação da droga que, em seguida, precisa ser aquecida, como vemos aqui.Fonte da imagem: Reprodução/Time
O resultado é um líquido amarelado com um cheiro ácido forte capaz de imitar os efeitos da heroína por um custo muito menor. De acordo com a Time, uma dose da krokodil custa alguns dólares, enquanto uma dose de heroína pode chegar a cerca de 20 dólares na Europa.
Mesmo não gastando muito dinheiro para conseguir os efeitos, os dependentes da krokodil pagam com a própria vida. A expectativa de vida de um usuário é de dois a três anos. Nos locais em que a droga é injetada, é comum que os vasos sanguíneos se rompam, que o tecido comece a apodrecer e, algumas vezes, descole dos ossos e caia em pedaços. Esses efeitos colaterais deram à substância um novo apelido: a droga zumbi.

O panorama da dependência

Rapidamente, a krokodil se tornou popular entre os dependentes na Rússia. Em 2005, a agência de narcóticos do país afirma ter registrado apenas casos de um único uso da substância. Seis anos depois, a agência confiscou 65 milhões de doses apenas no primeiro trimestre de 2011. No mesmo ano, a disseminação da droga cresceu e milhões de dependentes foram identificados na Rússia.
A iminência de uma epidemia é alarmante para os responsáveis. Além de ter crescido surpreendentemente na Rússia, notícias do uso da krokodil já começam a aparecer em outras partes do mundo. Em outubro, um relatório publicado no periódico online American Journal of Medicine confirmou o caso de um dependente de 30 anos do estado de Missouri, nos Estados Unidos, que perdeu um dos dedos e sofreu com o apodrecimento da pele depois de injetar a krokodil.
A proibição da venda de codeína nas prateleiras aconteceu em 1º de junho de 2012 e fez com que os números diminuíssem consideravelmente. Emanuelle Satolli, a fotógrafa italiana responsável pelas imagens que você vê abaixo, conta que os dependentes russos agora buscam o principal ingrediente da krokodil no mercado negro.
Durante um ano, a fotógrafa viveu na cidade industrial de Yekaterimburgo, nos Montes Urais, que é um destino conhecido pelo uso de drogas. Nesse período, ela retratou de perto sua experiência e o cotidiano de cerca de 12 dependentes.
Aviso: as imagens são relativamente fortes e podem impressionar pessoas sensíveis.
Andrey prepara as pílulas de codeína. O principal ingrediente da krokodil é a desomorfina, um opiáceo obtido a partir da síntese da codeína.Fonte da imagem: Reprodução/Time
A codeína é fervida em uma garrafa fechada por alguns minutos como parte da preparação da droga.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Zhanna cuida da preparação da krokodil.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Alexey, de 30 anos, enche uma garrafa de ar para fazer com que o líquido passe por um filtro que é usado na preparação.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Doses prontas para serem usadas.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Andrey, de 43 anos, aplica a droga em Zhanna em seu apartamento no bairro de Uralmash.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Enquanto Andrey injeta a droga, Zhanna aparece no fundo sob os efeitos da substância.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Zhanna aparece sob os efeitos do entorpecente, que costumam durar 40 minutos.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Alexei, de 33 anos, injeta uma dose de krokodil. Por causa de sua dependência, Alexei tem uma série de ferimentos no pé e é obrigado a andar com uma bengala.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Oxana, de 33 anos, prepara a krokodil.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Olya, de 35 anos, injeta a droga.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Elman, de 40 anos, mostra os ferimentos causados pelo uso de krokodil e metadona, outro opioide usado como entorpecente.Fonte da imagem: Reprodução/Time
Pavel, de 31 anos, mostra os efeitos da krokodil na sua pele. As substâncias químicas usadas para preparar a droga causam ferimentos graves e profundos.Fonte da imagem: Reprodução/Time

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Comer bem: Espinafre tem ácido oxálico demais

Recebi e repasso na íntegra.


Por que o espinafre faz mal à saúde



O consumo do espinafre aumenta a cada dia que passa. O famoso marinheiro Popeye, faz propaganda do alimento, dando a entender que quem come espinafre está sempre forte e pronto para superar qualquer obstáculo. O que poucos sabem, é que no mesmo país de origem do desenho (Estados Unidos), há algumas décadas atrás, a ingestão de leite batido com espinafre (o objetivo era enriquecer a bebida com ferro), causou a morte de crianças recém-nascidas. A doença ficou conhecida como doença do branco do olho azul, pois o branco dos olhos ficava dessa cor. Posteriormente, descobriu-se que a presença do espinafre no leite era a causadora da tragédia, mas na época (1951) o fato foi encoberto e o desenho do marinheiro Popeye continuou a ser exibido.

Por que devemos tomar cuidado com o espinafre


O espinafre é um dos alimentos vegetais que mais contém cálcio e ferro. Entretanto, esses dois minerais são pouquíssimo aproveitados pelo nosso corpo, já que o alto teor de ácido oxálico no vegetal inibe a absorção e a boa utilização desses minerais pelo nosso organismo. Os estudos mostram também que o ácido oxálico do espinafre pode interferir com a absorção do cálcio presente em leites e seus derivados.
 

Esse fato sugere que o espinafre em uma refeição pode reduzir a biodisponibilidade de cálcio de outras fontes que são consumidas ao mesmo tempo. Por isso, se no seu almoço você comeu uma torta de queijo com espinafre, tenha certeza que grande parte do cálcio do queijo não foi utilizada pelo seu organismo.
 

Outra grande preocupação é o possível efeito tóxico que a ingestão de grandes quantidades dos fatores antinutricionais presentes na planta pode causar nas pessoas. Com o objetivo de avaliar todos esses problemas, uma pesquisa, que resultou em uma tese de mestrado, foi desenvolvida na ESALQ/USP sob minha orientação. O estudo intitulado "Avaliação química, protéica e biodisponibilidade de cálcio nas folhas de couve-manteiga, couve-flor e espinafre" teve como objetivos verificar se determinadas plantas podiam ser utilizadas na dieta humana, sem causarem prejuízos à saúde e o bem-estar do indivíduo.

A pesquisa da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP)

 

As folhas estudadas foram adquiridas no comércio local e a folha de espinafre foi também adquirida de outros dois locais: da Fazendinha da UNIMEP e da horta do Departamento de Horticultura da ESALQ/USP. Essas folhas foram lavadas, secas em estufa e moídas. A seguir, foram acrescentadas nas dietas que foram avaliadas durante o ensaio experimental com duração de 30 dias.
 

Resultados
 

Os resultados começaram a impressionar quando verificamos os teores dos dois fatores antinutricionais investigados: ácido fítico e oxálico. A folha de espinafre apresentou valores muito altos em relação às demais. Como conseqüência desse fato, os animais alimentados com a folha de espinafre morreram na primeira semana, e portanto, não puderam ser avaliados até o final do estudo. Várias tentativas foram feitas, utilizando dietas com folhas de espinafre cozidas (acreditávamos que o calor pudesse destruir os fatores tóxicos presentes) ou folhas de espinafre provenientes de outros locais (livres de agrotóxicos que pudessem ter influência).
 

Contudo os mesmos resultados repetiram-se, ou seja, houve a morte dos animais com hemorragia, tremores e perda de peso. Os rins dos animais mortos foram retirados e analisados pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba/UNICAMP. De acordo com o laudo apresentado pelo Departamento de Patologia, foi comprovado inchaço renal, indicando uma nefrotoxidade, edema celular e depósito de substâncias aparentemente cristalizadas nos túbulos renais, o que provoca disfunção renal.
 

De acordo com vários pesquisadores, a explicação provável estaria na presença do ácido oxálico no alimento, que além de causar um balanço negativo de cálcio e ferro, em doses superiores a 2g/Kg de peso, pode causar toxicidade nos rins. Já o ácido fítico, quando na proporção de 1% na dieta, seria o responsável pela redução do crescimento dos animais jovens. Na década de 80, estudos já atribuíam ao ácido oxálico sintomas como lesões corrosivas na boca e trato-intestinal, hemorragias e cólica renal, causados pela ingestão de plantas ricas nesta substância. De acordo com esses mesmos estudos, o espinafre que possui a relação de ácido oxálico/cálcio superior a 3, deve ser evitado. Na nossa pesquisa isso foi observado.
 

Com relação às demais folhas, couve-manteiga e couve-flor, não foi observado nenhum efeito tóxico, verificando-se que a melhor biodisponibilidade e retenção de cálcio nos ossos (73%) ocorreu nos animais que ingeriram a dieta contendo couve-manteiga.
 

Os resultados desse estudo nos levam a acreditar que o consumo de espinafre deve ser substituído por outros vegetais folhosos, já que os efeitos proporcionados pela ingestão das substâncias antinutricionais presentes na folha, podem ser prejudiciais à absorção de nutrientes importantes para nossa saúde, e essas mesmas substâncias podem causar sérios problemas tóxicos.
 

Os resultados também sugerem que além da grande presença de ácido oxálico e fítico, provavelmente a folha do espinafre contenha outras substâncias tóxicas, que supostamente levaram à óbito os animais do estudo, bem como causaram o incidente com os recém-nascidos nos Estados Unidos. Essas substâncias, ainda não identificadas, exerceriam ações tóxicas em pessoas mais sensíveis e levariam a chamada "doença do branco do olho azul". Fica claro, portanto, a necessidade de mais estudos elucidativos a respeito do assunto.
 

Finalizando, a minha dica é que todos procurem dar preferência a outros vegetais folhosos em substituição ao espinafre: a couve, brócolis, folha de mostarda, agrião, as folhas de cenoura, beterraba e couve flor e leguminosas como os feijões, ervilhas, lentilhas e soja são as melhores opções para quem quer consumir fontes alternativas de cálcio e ferro.

* Profª. Titular de Vida Saudável da ESALQ/USP/Campus Piracicaba. Autora dos livros: "Previna Doenças. Faça do Alimento o seu Medicamento" e "Pharmácia de Alimentos. Recomendações para Prevenir e Controlar Doenças", editora Madras.

Revolução dos Cravos