Cerca de dez anos atrás, os médicos russos notaram o aparecimento de ferimentos e marcas no corpo de alguns dependentes químicos. Pacientes em hospitais da Sibéria e do Extremo Oriente da Rússia apresentavam pedaços de carne que tinham uma coloração escura e começavam a descamar, como se fosse a pele de um crocodilo.
Em pouco tempo, eles descobriram o que causava tal reação no corpo: os pacientes estavam injetando uma nova droga que foi batizada, como era possível prever, de “krokodil”. Embora a palavra signifique “crocodilo” em russo, alguns defendem que o nome da substância vem de um dos principais compostos da droga, a alfa-clorocodida.
Na mesma época, vídeos que mostravam os efeitos da droga devastadora – que recebeu o nome de desomorfina quando foi inventada para uso médico em 1932 – logo surgiram na internet. Apesar do uso da substância como entorpecente ter surgido na Rússia, acredita-se que a droga já tenha chegado aos Estados Unidos e tudo indica que podemos ter uma epidemia em breve.
O preço do vício
Um dos principais motivos para o grande uso e a disseminação da krokodil é que se trata de uma substância fácil de ser produzida – qualquer pessoa consegue preparar a droga com ingredientes encontrados em farmácia e alguns utensílios de cozinha.
O ingrediente ativo da krokodil é a codeína, um opioide leve que pode ser encontrado com facilidade em muitos países. Os usuários misturam a codeína com uma série de outros ingredientes, como thinner, ácido clorídrico, fósforo (que eles raspam de caixas de fósforo), entre outros.
O resultado é um líquido amarelado com um cheiro ácido forte capaz de imitar os efeitos da heroína por um custo muito menor. De acordo com a Time, uma dose da krokodil custa alguns dólares, enquanto uma dose de heroína pode chegar a cerca de 20 dólares na Europa.
Mesmo não gastando muito dinheiro para conseguir os efeitos, os dependentes da krokodil pagam com a própria vida. A expectativa de vida de um usuário é de dois a três anos. Nos locais em que a droga é injetada, é comum que os vasos sanguíneos se rompam, que o tecido comece a apodrecer e, algumas vezes, descole dos ossos e caia em pedaços. Esses efeitos colaterais deram à substância um novo apelido: a droga zumbi.
O panorama da dependência
Rapidamente, a krokodil se tornou popular entre os dependentes na Rússia. Em 2005, a agência de narcóticos do país afirma ter registrado apenas casos de um único uso da substância. Seis anos depois, a agência confiscou 65 milhões de doses apenas no primeiro trimestre de 2011. No mesmo ano, a disseminação da droga cresceu e milhões de dependentes foram identificados na Rússia.
A iminência de uma epidemia é alarmante para os responsáveis. Além de ter crescido surpreendentemente na Rússia, notícias do uso da krokodil já começam a aparecer em outras partes do mundo. Em outubro, um relatório publicado no periódico online American Journal of Medicine confirmou o caso de um dependente de 30 anos do estado de Missouri, nos Estados Unidos, que perdeu um dos dedos e sofreu com o apodrecimento da pele depois de injetar a krokodil.
A proibição da venda de codeína nas prateleiras aconteceu em 1º de junho de 2012 e fez com que os números diminuíssem consideravelmente. Emanuelle Satolli, a fotógrafa italiana responsável pelas imagens que você vê abaixo, conta que os dependentes russos agora buscam o principal ingrediente da krokodil no mercado negro.
Durante um ano, a fotógrafa viveu na cidade industrial de Yekaterimburgo, nos Montes Urais, que é um destino conhecido pelo uso de drogas. Nesse período, ela retratou de perto sua experiência e o cotidiano de cerca de 12 dependentes.
Aviso: as imagens são relativamente fortes e podem impressionar pessoas sensíveis.
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