Outro dia passeando pelas internetes afora me deparei com um texto incrível, explicando com bastante embasamento uma teoria que eu poderia chamar aqui de ‘Lasseter’s Mind’. Qualquer semelhança com o sensacional curta intitulado Tarantino’s Mind não é mera coincidência.
Assim como Selton Melo explica para Seu Jorge que todos os filmes de Tarantino são ambientados no mesmo universo, eu vou explicar para você a mesma coisa. Só que ao invés de filmes do Tarantino serão os filmes da Pixar, e de como TODOS os filmes até aqui são ambientados no mesmo mundo. Sim, até mesmo Carros. E VAI COM CERTEZA EXPLODIR VOSSA CABEÇA.
A teoria surgiu após o autor ter visto um vídeo no Cracked com o título Why Pixar Movies Are All Secretly About the Apocalypse. O vídeo é de fato apenas um pontapé inicial, mas a Teoria Pixar de Negroni vai bem mais fundo.
Vamos a ela.
*No meio do texto eu coloquei algumas das minhas próprias ideias, reforços para as ideias de Jon Negroni. Elas estarão identificadas por chaves { }. =)
A Teoria Pixar
A base da teoria consiste em que todos os filmes da Pixar acontecem em diferentes momentos de uma gigantesca linha do tempo. E que todos os eventos que acontecem em algum filme influencia o que acontece em outros. E tudo começa, obviamente com Brave que é o primeiro filme na timeline.
Brave também é o filme que explica por que os seres inanimados e os animais no mundo da Pixar se comportam como humanos.
No filme, Merida descobre que existe um certo tipo de “magia”, e que ao tentar resolver seus problemas ela acaba transformando a mãe dela em um urso. Descobrimos que essa magia vem de uma velhinha bem da esperta está ligada aos tais ‘foguinhos’ azuis misteriosos que são fonte dessa magia. Em Brave não vemos apenas animais se comportando como humanos, mas objetos inanimados também, como as vassouras na lojinha da bruxa.
Nós também vemos que a bruxa desaparece inexplicavelmente toda vez que ela ultrapassa uma porta. Atravessar portas te lembra alguma coisa? Mas calma, não vamos nos adiantar. Ainda voltaremos a Brave. Por ora, vamos apenas guardar o fato de que a bruxa pode ser alguém que conhecemos em outro filme nesta linha do tempo maluca.
Nota: Alguns leitores de Jon apontaram que em Brave os animais acabam voltando à ou indo de vez para a forma ‘animal irracional’, quebrando um pouco a teoria de que seria os tais fogos azuis (fogo-fátuo) que fizeram os animais do universo se comportarem como humanos. Podemos pensar que os animais voltam ao seu estado natural porque a magia vai simplesmente perdendo força. Mas que inevitavelmente os animais evoluiriam para aquele estado de inteligência que já tiveram uma vez por causa da magia.
Enfim, séculos depois de quando a história do filme se passa, os animais que foram cobaias da bruxa se reproduziram, criando assim uma grande população de animais que iam ganhando cada vez mais a capacidade de ‘personificação’ e inteligência.
A partir daí temos duas pontos importantes: a evolução dos animais e da inteligência artificial. Os eventos narrados em Ratatouille, Procurando Nemo e Up, mostram uma queda de braço constante entre humanos, animais e máquinas. Essa queda de braços arma o palco para algo bem maior que está por vir na timeline proposta pela teoria.
Em Ratatouille, vemos Remy tendo que conviver com sua crescente ‘personificação’. Enquanto sua colônia ainda se comporta como ratos ‘normais’, Remy não só quer cozinhar como entende absolutamente tudo sobre o negócio. O ratinho constrói uma relação de amizade com um pequeno grupo de humanos, porém o vilão do filme, o Chef Skinner simplesmente desaparece. O que será que Skinner fez com o conhecimento de que animais conseguiriam transcender seus instintos e suas capacidades, fazendo coisas – como cozinhar – melhor que humanos? Como conhecemos o Skinner, sabemos que ele não ficaria de boca fechada.
Será possível que esse rumor deu a ideia para que Charles Muntz – o vilão em UP – pudesse inventar bugigangas que dessem voz aos pensamentos de animais, mais especificamente seus cachorros? Os colares ~tradutores~ mostraram para Muntz que os animais seriam mais inteligentes e mais parecidos com humanos do que imaginávamos. É bom ter em mente que essa tecnologia foi criada para capturar um animal exótico que nosso antagonista aqui era obcecado.
Ao fim de UP, Doug e os outros cães são libertados e não sabemos quais são as consequências. Doug obviamente fica com Carl, mas e os outros cães? Podemos supor que a partir daí os humanos já tenham descoberto o potencial dos animais e o quão inteligentes eles seriam de verdade. Os humanos então começam a ‘contra-atacar’ para não perder o seu domínio, focando assim num crescimento tecnológico agressivo que culminará no mundo destruído que vemos em Wall-E.
Nota: Alguns leitores apontaram nessa parte que Charles Muntz já estaria na América do Sul em busca do pássaro ANTES dos eventos de Ratatouille. Isso é fato, porém nunca fica explícito em qual momento exatamente Muntz criou os colares.
No início de UP, Carl é forçado a sair de sua casa porque uma corporação está em plena EXPANSÃOpela cidade. Qual corporação é a culpada pela poluição da terra? Que causou a destruição de qualquer forma de vida na terra? (baratas não contam)
By-n-Large (BNL), a corporação que quando o mundo ‘acabou’ controlava absolutamente tudo no planeta. No comercial “History of BNL” ficamos sabendo que a BNL tomou conta inclusive dos governos do planeta. Ou seja essa corporação conseguiu a dominação mundial. Chupa Cérebro!
Em Procurando Nemo, temos uma população inteira de criaturas do mar se unindo por uma causa nobre, um pai em busca do filho que foi raptado por humanos. A BNL aparece no filme também, em uma notícia que fala sobre o vasto e maravilhoso universo embaixo d’água. Procurando Nemo é mais um exemplo de que os tais ‘animais inteligentes’ já estão dando nos nervos dos humanos. {Isso explicaria o comportamento de Marla, e também a frustração dentista frente à fuga de seus peixes.}
Pense por um segundo na [baleiês on] Doooooooryyyy [/baleiês off]. Por que ela é tão considerada tão ‘estranha’? Por que ela não é ‘normal’ como os outros animais que vemos no filme? Bem, porque ela não é tão inteligente assim. As falhas de memória podem ser analisadas como uma pequeno atraso na evolução (que comentei lá em Brave) de Dory. O que pode nos mostrar o quão rápido alguns animais estão evoluindo. A ponto de deixar outros para trás no processo.
Talvez encontraremos mais respostas e na sequência de Procurando Nemo, em que o foco será na própria Dory. Além disso poderemos ter uma visão maior em relação a essa animosidade crescente entre humanos e animais. Até porque esse é o mais longe que chegamos no que se trata dessa ‘briga’. A partir de agora é humanidade vs inteligência artificial.
O que nos leva diretamente ao primeiro filme da timeline a tratar do assunto: Os Incríveis. Se eu te perguntar quem é o vilão do filme, você irá rapidamente dizer “É o Síndrome uai.” (talvez sem o uai). E se eu disser para você que são as máquinas os grades vilões por trás do pobre ~Gurincrível.
No filme, o garotinho que queria ser parceiro do Sr. Incrível do nada se transforma num facínora genocida? Lembrando aqui que ele simplesmente mata quase todos os super-humanos. Mas Síndrome não tem nenhum poder, como ele poderia… ah sim! Tecnologia. Não parece um pouco demais, alguém que só queria chamar atenção, do nada passa a matar pessoas a sangue frio?
Vemos que o Gurincrível (maravilhoso nome) cria um robô assassino que se adapta após cada batalha. Quase como um Sayajin, se tornando mais poderoso a cada derrota, até que o robô se volta contra o “vilão”. Que podemos chegar a conclusão que ele estava sendo CONTROLADO pela inteligência artificial, pelas máquinas, e não o contrário. {Algo como o Dr. Octopus do Homem-Aranha 2}. Com o objetivo de destruir todo e qualquer super-humano.
Afinal de contas, o que poderia ameaçar mais um takeover das máquinas do que super-humanos? O próprio filme mostra alguns super sendo mortos por objetos inanimados. Como capas sendo sugadas por turbinas de aviões. EM? EM?
Nota: Aqui vai uma teoria muito legal também. Randall (o camaleão de Monstros S.A e Universidade Monstros) seria a inspiração para Edna criar o uniforme de que absorvia a invisibilidade de Violet. {Plausível, uma vez que Randall visitava mais o ‘mundo dos humanos’ com mais frequência do que pensamos.}
Mas de onde vem todo esse ódio? Por que afinal as máquinas estariam tentando se livrar dos humanos? Sabemos das tretas dos animais com os humanos, por causa da poluição, dos experimentos, etc. Mas por que as máquinas?
A resposta está em Toy Story.
Em toda trilogia temos exemplos de brinquedos (objetos inanimados, máquinas) sendo descartados como lixo. Brinquedos que são claramente conscientes e não entendem essa forma com que são tratados. Vamos isso com os brinquedos se revoltando contra Sid no primeiro filme, no ressentimento de Jesse em relação a sua antiga dona no segundo e claro, com o desvairado do Lotso no último filme. Da para imaginar em uma escala global como os brinquedos e outros objetos estariam insatisfeitos com esse status quo.
Com os super-humanos fora da jogada, {supondo que a família Pêra tenha acabado por sucumbir em algum momento}, a humanidade está vulnerável.
O plano maligno das máquinas então entraria em vigor através da dominação mundial pela BNL. Uma corporação sem rosto que destruiria o mundo por causa do avanço tecnológico que falamos lá em cima. {Aqui é que entra algo um tanto sinistro na minha opinião.} Quando os animais tentam tomar o controle, (no melhor estilo Planeta dos Macacos) pelo fato dos humanos estarem destruindo o planeta, através da BNL, eles perdem a ‘guerra’.
Em Toy Story vemos que os objetos precisam dos humanos para serem vivos. Algo meio Matrix. Woody fala disso o tempo todo, e é por isso que as máquinas salvam os humanos na tal guerra. Levando-os mais tarde para longe do planeta na Axion, no último esforço para ‘salvar’ a raça humana.
E como as máquinas tratam os humanos na nave? Ganha um doce quem respondeu “como brinquedos”. Os humanos são dependentes da tecnologia para absolutamente tudo, assim como os brinquedos eram na época de Toy Story.
Quem sobra na Terra?
As máquinas. Por que não Carros? O que explica aquele mundo cheio de coisas feitas pelos humanos, mas sem nenhum humano? Sem nenhum animal. As cidades ainda estão todas lá, como vemos nos dois filmes, é um mundo idêntico ao nosso, porém sem humanos. ;) (essa seria ainda a causa de eventualmente tudo, inclusive as máquinas acabarem morrendo quando chegamos em Wall-E, menos o próprio e a barata). {Para mim, o fato de existir um carro do Pizza Planet em Carros, prova essa teoria}
Humanos que são fonte de energia para as máquinas, teoricamente. O que nos leva a crer que essa é a real história por trás da famigerada crise de energia em Carros 2. A busca desesperada por novas fontes de energia leva a criação do Allinol, o combustível ecofriendly que acaba matando vários carros.
Em tempo, Allinol ou “all in all” significa o mesmo que “by and large”
O que nos traz de volta a Wall-E.
Você pode se perguntar “Se os humanos são a fonte de energia, porque então Wall-E continuou funcionando?” {A luz solar lhe dá apenas ‘eletricidade’, a alma dos objetos e das máquinas é que vem dos humanos, provado pelo próprio Wall-E quando EVA o reconstrói, a princípio ele funciona, mas sem seu ‘espírito’, reativado pelo ~beijo}. A teoria diz que é pelo fato de Wall-E ser tão fascinado com a humanidade, alimentado pelos filmes, música e comportamento.
Isso inclusive explica a vontade e empenho do robozinho para salvar a humanidade, assim que ele descobre que a plantinha é a chave de tudo. Ele se sacrifica (como Jesus*) pela humanidade. *Não são poucas as referências bíblicas em Wall-E. Ele tem na memória o tempo em que máquinas e humanos conviviam em harmonia, longe da poluição causada pelos dois lados.
Ao fim de Wall-E, temos nas cenas dos créditos uma imagem emblemática. A plantinha na bota, que possibilitou a volta dos humanos para a Terra se transformou em uma árvore grandiosa. Que é idêntica à árvore icônica de Vida de Inseto!
Tem mais. Vida de Inseto é o único filme da Pixar que envolve animais mas não tem nenhuma intervenção de humanos. Que aliás não são nem mencionados no filme. Porém há diversas referências de que humanos já viveram naquele mundo, ou que não existam em tanta quantidade naqueles dias. Provando que Vida de Inseto se passa numa época bem no futuro.
Vale lembrar também que biologicamente uma formiga não é capaz de viver mais que três meses. O que não bate com as formigas em Vida de Inseto, uma vez que temos crianças e velhos, que já passaram por vários verões atacados pela gangue dos gafanhotos. Isso se explica por mutação genética. Dada pela poluição do mundo pós apocalíptico de Wall-E.
Mas e agora? Bem, chegamos no momento sua cabeça explodirá de fato pela primeira vez. Chegamos a Monstros S/A.
Imagine que a nova sociedade harmoniosa entre humanos, máquinas e animais, criada após Wall-E, cresça em harmonia até o ponto em que uma nova espécie aparece. Sim. Monstros. Eles podem ser uma evolução de humanos ou animais devido a Terra ter estado ‘doente’ aquele tempo todo. Apesar de horríveis, vemos que esses monstros tem comportamentos humanos, civilizados. Chegando a uma sociedade muito parecida com a nossa. Jantares em restaurantes, universidades, carreiras, filhos, etc.
Sacou? Monstros S/A não se passa em uma dimensão paralela. As portas não são portais para “outro mundo”, e sim portais em que os monstros VIAJAM NO TEMPO. PUTA QUE PARIU.
Com o crescimento da sociedade monstro, eles precisariam de mais energia para manter tudo funcionando. Já sabemos aqui que são os humanos que provem essa energia mística que faz tudo funcionar. A crise de energia se dá porque já não existe mais nenhum humano no mundo.
Ou seja, os monstros voltam no tempo em que do ápice da civilização humana para farmar energia! Não é demais isso? E os monstros foram treinados logo de início a não interagir com humanos em nenhuma instância – falsamente sob risco de morte – pelo fato de que zoar o espaço tempo contínuo poderia apagar a própria existência dos monstros.
Dito isso, podemos afirmar que Monstros S/A é de longe o último filme da timeline. É o filme mais futurista lançado até agora pela Pixar. E no fim do filme, temos outra vez humanos, animais e máquinas convivendo em harmonia.
MAS CALMA QUE NÃO ACABA AÍ.
A teoria ainda faz uma revelação que não só amarra tudo, mas fará sua cabeça explodir. Seu cérebro irá colar no teto.
Está preparado?
O que você me diz então sobre a pequena Boo. O que acontece com aquela coisinha linda fofinha de menina? Você acha que ela ia esquecer aquele ‘mundo’ que ela visitou? Que ela esqueceria que o “gatinho” podia falar com ela? Boo ficaria obcecada e buscaria durante toda sua vida seu reencontro com Sully.
Ela sabe que o segredo para encontrar Sully está nas portas.
AGORA ME DIZ QUEM É QUE A GENTE CONHECE QUE DESAPARECE EM PORTAS EM? EM? EM? :D
UMA BRUXA!
Sim! Fuck Yeah! Boo é a bruxa matusquela de Brave! Ela provavelmente descobriu como viajar no tempo ao tentar encontrar Sully. Ela então vai até a fonte de tudo: o fogo-fátuo. E é dobrando a magia dos fogos azuis que ela consegue criar mais portas para viajar para frente e para trás no tempo. Duas coisas provam essa teoria.
A escultura do carrinho da Pizza Planet (imagem acima) e o desenho de Sully gravado na madeira.
Quer outra explosão de cabeça?
O próprio fato de TODOS os filmes da Pixar serem recheados de centenas de easter eggs é pelo fato de Boo viajar no tempo e deixar esses objetos por aí. A gente sabe que ela é meio maluquinha desde criança ;p. E se liga, todos os easter eggs de Brave estão na lojinha da ‘Brooxa’.
Se Boo acaba encontrando Sully mais vezes, não sabemos. Sabemos que eles se encontram pelo menos mais uma vez no fim de Monstros S/A. Mas provavelmente ele deixou de visitá-la com o tempo. {Ou talvez ela tenha se mudado de casa, se mudado de porta}.
Mas o amor de Boo por Sully é o que amarra toda a teoria. O amor fraternal que permeia toda a gigantesca obra criada por essa empresa que nós amamos também da mesma forma.
ESSA é a Teoria Pixar.
E aí, o que achou? Achou algumas partes forçadas? Ou sua cabeça explodiu como a minha? Comente aí, dê novas ideias, ou use seus argumentos para destruir a teoria. Tudo é válido.
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