Escrito pelo conceituado pediatra Dr. Sears, pai de 8 filhos
“No topo da minha lista de conselhos inúteis, está um que todos os pais praticamente ouvem, é deixar o bebê chorar para dormir. Para ver como esse conselho é ignorante, vamos analizar cada palavra nessa relação mamãe-bebê”
“Se pelo menos o meu bebê pudesse falar em vez de chorar eu saberia o que ele quer” diz Janet, mãe de um bebê exigente e choroso. “Seu bebê pode falar”, nós dizemos. “A chave para entender é aprender a ouvir. Quando você aprende a linguagem especial do choro do seu bebê, você será capaz de responder sensivelmente. Aqui algumas dicas que ajudarão a descobrir o que o seu bebê está tentando dizer com o choro.
O choro não é apenas um som, é um sinal, projetado para a sobrevivência do bebê e desenvolvimento dos pais. Não responder ao choro faz com que ambos, bebê e pais, percam. Vejam por que. Nos primeiros meses de vida, bebês não conseguem verbalizar suas necessidades. Para preencher essa lacuna até que o bebê possa falar sua língua, bebês têm uma linguagem única chamada “choro”.
Bebês sentem uma necessidade, como fome ou necessidade de ser confortado quando angustiado, e essa necessidade desencadeia um som que chamamos choro. O bebê não pensa na sua cabecinha: “São 3 da manhã, e eu acho que vou acordar mamãe para um leitinho”. não! Esse raciocínio defeituoso está pondo uma interpretação de adulto na cabeça de um bebezinho. Além disso, bebês não têm a capacidade mental de entender porque os pais responderiam ao seu choro às 3 da tarde mas não às 3 da manhã. O choro do recém-nascido está dizendo: Eu preciso de algo, alguma coisa não está certa aqui. Por favor me ajude a consertar.”
Um dos conselhos mais ouvidos, e um dos piores, é “deixe seu bebê chorar sozinho”!. Para ver como é inútil e até perigoso esse conselho, vamos analisar cada palavra na relação mamãe-bebê.
“Deixe seu bebê”. – Alguém que não tem conexão biológica com seu bebê, não o conhece nem investe nada nele, e nem está lá às 3 da manhã quando o bebê chora, tem a coragem de te aconselhar como responder (ou não) ao choro do seu bebê. O choro tem um propósito maravilhoso. Considere o que aconteceria se o bebê não chorasse.
Ele está com fome mas não acorda (“Ele dorme a noite toda, vangloriam-se pais de um bebê treinado a dormir com o método do choro). Ele está com dor, mas não comunica a ninguém. Essa falta de comunicação é conhecida no fim como “falência para desenvolver-se” “Desenvolver-se” significa não somente ganhar peso, mas crescer ao máximo potencial emocionalmente, fisicamente e intelectualmente.
“Chorar” - não é somente para o bebê que o choro tem um propósito maravilhoso; é também muito útil para os pais, especialmente para mãe. Quando uma mãe ouve seu bebê chorar, o fluxo de sangue aumenta em direção aos seios, acompanhado de uma compulsão biológica imensa de pegar o bebê e amamentá-lo. (amamentar no sentido de confortar, não somente de alimentar). Como um bônus biológico, os hormônios maternais liberados quando o bebê amamenta relaxam a mãe, então ela fica menos tensa e mais cuidadosa em resposta às necessidades do bebê. Essas mudanças biológicas – parte do propósito da comunicação mãe-bebê – explicam porque é fácil para alguém de fora aconselhar a deixar seu bebê chorando, mas é muito difícil para você fazer isso. O conselho é contraprodutivo e não é biologicamente correto.
“Chorar”" - Considere o que exatamente é isso. “Deixar chorar” é um hábito adequado? Provavelmente não, porque para os bebês chorar não é um ato de diversão. E, ao contrário do pensamento popular, chorar não é “bom para os pulmões do bebê”. Essa crença não é fisiologicamente correta. O choro é uma necessidade emocional e física. Algo não está certo e o único jeito do bebê nos falar é pelo choro, nos pedindo para “consertar”. Nos primeiros meses, considere os choros do bebê com um sinal de alguma necessidade – comunicação, e não manipulação.
Dica aos pais: bebês choram para comunicar – não para manipular.
“Sozinho” - O que isso significa de verdade? O que acontece para o bebê, para os pais e para a relação entre eles quando um bebê é deixado chorando sozinho? Uma vez que o choro é a linguagem do bebê, uma ferramenta de comunicação, o bebê tem duas escolhas se ninguém o escutar. Ele pode chorar mais e mais alto, mais forte, e produzir sons bem perturbadores, ou ele pode se calar e se tornar um “bom bebê ” (significando “quieto”). Se ninguém escutar, ele vai se tornar um bebê muito desencorajado. Ele vai aprender uma coisa que você não quer que ele faça: vai aprender que ele não pode se comunicar.
O bebê perde a confiança no valor do seu sinal do choro – e talvez também perca confiança na correspondência das pessoas que tomam conta dele. Não somente o sinal vital do bebê se “perdeu”, mas um ingrediente importantíssimo na relação pais-filhos se perde também – a sensibilidade! Quando você responde intuitivamente às necessidades do seu bebê, quando você trata o choro como uma “pista”:- bebê chora, você responde, e faz isso centenas de vezes nos primeiros meses, o bebê aprende a dar a “pista” melhor (o choro se torna menos e menos ruidoso e adquire uma qualidade comunicativa como se o bebê aprendesse a “falar melhor”). Do outro lado da moeda da comunicação mãe-bebê, você aprende a “ler” o choro do seu bebê e a responder apropriadamente (sabendo quando dizer “sim” e quando dizer “não” e o quanto você precisa ser rápida).
Com o tempo você aprende a razão fundamental da sensibilidade ao choro: ler a linguagem corporal do bebê e responder aos seus sinais ANTES do choro, de maneira que o bebê nem sempre terá que chorar para comunicar uma necessidade.
Agora vamos analisar o que acontece quando você “endurece seu coração” e vê o choro do bebê como controle e não como uma ferramenta de comunicação, e ignora o choro do bebê. Quando você vai contra seus instintos biológicos, você se dessensibiliza a si mesma em relação aos sinais do bebê e suas respostas instintivas.
Depois de um certo tempo, o choro para de te incomodar. Você perde a confiança nos sinais do bebê, e perde a confiança na sua própria habilidade de entender a linguagem primitiva do bebê. Uma distância cada vez maior ocorre entre você e o bebê, e você corre o risco de se tornar o que os pediatras chamam de: doutor-me-diga-o-que-fazer. Você lê um livro em vez de ler o seu bebê. Então, não ouvir e responder com sensibilidade ao choro do bebê é uma situação em que todos perdem. O bebê perde a confiança nas pessoas que tomam conta dele, e quem toma conta dele perde a confiança na sua própria sensibilidade.
A mãe perdeu a confiança nela mesma. Para ilustrar como uma mãe pode enfraquecer o dom natural da sensibilidade ao bebê quando ela se deixa levar por conselhos errados, uma mãe veterana recentemente nos contou essa história.
“Eu fui visitar minha amiga que teve bebê. Enquanto estávamos falando, sua bebê de 3 semanas de vida começou a chorar em outra sala. O bebê continuou chorando, mais forte e mais alto. Eu estava quase me levantando e indo eu mesma confortar o bebê. O choro do bebê não a incomodou, mas incomodava a mim. Meus seios quase começaram a jorrar leite! Ainda assim minha amiga parecia não ouvir os sinais do bebê. Finalmente, eu não consegui aguentar mais e disse: “Tudo bem, vá lá atender seu bebê, nós podemos conversar mais tarde” Ela respondeu, “não, ainda não é hora de mamar”. Sem acreditar, eu perguntei: “Mary, onde foi que te deram esse conselho tão prejudicial?” “Numa aula de treinamento de bebês na igreja,” ela insistiu orgulhosa. “Eu quero que meu bebê aprenda que EU estou no controle, e não ele.”
Essa mãe de primeira viagem, querendo fazer o melhor para o seu bebê e acreditando que estava sendo uma boa mãe, permitiu-se sucumbir aos profetas dos conselhos ruins, e estava perdendo toda a sua sensibilidade natural em relação ao seu bebê. Ela está começando sua carreira em maternidade com uma distância cada vez maior entre ela e seu bebê. O par mãe-filho estava se “desconectando”.
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