Este artigo foi retirado do Capítulo 4 do livro de Aletha Solter, “The Aware Baby” – “O Bebê Atento” (edição revisada).
Os indivíduos jovens de todos os mamíferos terrestres dormem em proximidade íntima a suas mães. Durante milhões de anos nos tempos pré-históricos, as crianças humanas provavelmente dormiam com suas mães. Nas tradicionais culturas tribais de hoje a prática de dormir com as crianças ainda é totalmente comum. Porém, nas culturas tecnologicamente avançadas da América do Norte e Europa, esta prática foi amplamente abandonada em favor dos berços. Na maioria das casas, a criança nem sequer dorme no mesmo quarto que seus pais.
Quando e como a prática natural de dormir com as crianças se perdeu na Cultura Ocidental? Durante o século 13 na Europa, os padres católicos foram os primeiros a recomendar que as mães parassem de dormir junto com as crianças.(1) Apesar da razão primária para este conselho ter sido provavelmente o surgimento do patriarcado e o medo de muita influência feminina nas crianças (principalmente nos meninos), a razão alegada para a recomendação era o medo de que se pudesse sufocar as crianças, situação mais conhecida como “overlaying” (rolar por sobre o bebê). Agora já se acredita que na maioria dos casos as mortes de crianças durante a Idade Média foram causadas por doença ou infanticídio. Quando um sufocamento acidental ocorria, era provavelmente porque um dos pais estava sob influência do álcool.
Nos séculos 14 e 15, o conselho de não dormir com as crianças começou a fazer efeito, e os berços eram itens comuns da mobília em quase todas as casas européias em que vivessem crianças.(2) A idade em que os bebês eram colocados para dormir nos berços durante a noite, em lugar de nos braços de suas mães, foi ficando cada vez mais jovem. Após a Revolução Industrial no século 18, a noção de “criança mimada/estragada” foi muito difundida nos países industrializados, e as mães eram advertidas para não pegar muito em seus bebês por medo de se criar monstros exigentes.
Durante o século 20, as crianças das sociedades tecnológicas foram mais separadas de suas mães do que em qualquer época anterior na história da nossa espécie. Mais e mais nascimentos aconteceram em hospitais, e os berçários nos hospitais foram inventados para proteger as crianças de infecções. Desde o início, esperava-se que os bebês dormissem sozinhos, longe de suas mães. O declínio da amamentação, promovido pela empresas produtoras de leites substitutos, mais tarde contribuiu para agravar esta separação entre mães e bebês. Durante a amamentação, as mães normalmente produzem hormônios (como a oxitocina e a prolactina), que ajudam a criar um forte desejo de ficar perto dos seus bebês. O aleitamento por mamadeira priva as mães dos hormônios e elimina a necessidade da presença da mãe biológica. O resultado de todas estas influências é que, por volta de 1950, pouquíssimos bebês nas nações industrializadas ocidentais dormiam com suas mães.
Não é de se estranhar que os pais começassem a procurar ajuda para toda uma gama de novos tipos de problemas. Os especialistas no campo de educação infantil se viram procurando soluçoes para bebês que não dormiam bem à noite, para aqueles que batiam suas próprias cabeças, para criancinhas que fugiam de seus berços e continuavam indo até a cama de seus pais, e para crianças que molhavam suas camas ou tinham pesadelos e medo do escuro. Muitos desses problemas ligados ao sono poderiam ser o resultado de se forçar os bebês a dormirem sozinhos.
Quem sabe o crescente aumento da sexualidade e gravidez na adolescência não esteja relacionado com uma necessidade de ser tocado mais do que um verdadeiro desejo por sexo? A expressão “dormir com alguém” implica em fazer sexo. Talvez esta expressão reflita uma necessidade universal não atendida na infância de dormir junto com os pais e receber carinho e toque deles durante a noite.
Felizmente, a prática de dormir com os bebês e crianças pequenas está começando a ser amplamente recomendada e aceita no Ocidente Industrializado, já que os pais estão começando a confiar em seus impulsos naturais de dividir a cama com seus bebês. A partir de 1970 alguns livros começaram a recomendar que os pais dormissem com os bebês. Agora há muitos livros que recomendam a cama compartilhada, mais conhecida como “co-sleeping” (“sono compartilhado”).(3)
Os bebês têm fortes necessidades de conexão que pesquisadores científicos estão apenas começando a entender. A necessidade de contato físico, tanto de dia como de noite, é uma necessidade vital e legítima durante os primeiros anos. Anna Freud, a filha de Sigmund Freud, reconheceu isso quando escreveu: “É uma necessidade primitiva da criança ter contato íntimo e aquecedor com o corpo de outra pessoa enquanto pega no sono…. A necessidade biológica do bebê pela presença constante dos cuidados de um adulto é desconsiderada em nossa cultura ocidental, e as crianças são expostas a muitas horas de solidão devido ao conceito equivocado de que é saudável para o jovem dormir … sozinho.” (4)
Alguns especialistas em educação infantil defendem que os bebês nunca vão querer sair uma vez que tenham sido levados para a cama dos pais. Isto pode ser verdade durante os primeiros anos quando as crianças precisam de intimidade e segurança. Porém, não precisamos forçar as crianças a ficarem independentes. Isto ocorre naturalmente quando a criança supera suas necessidades de bebê.
O forte desejo dos bebês humanos de dormir junto de suas mães deve ter sua base em nossa história evolutiva. No estágio em que nossa espécie se ocupava da caça, os bebês deviam ser extremamente vulneráveis a predadores e ao clima frio, especialmente à noite. Os bebês que temiam o escuro e se recusavam a dormir sozinhos tinham melhores chances de sobreviver do que os bebês que não reclamavam quando eram deixados de lado. Então houve uma forte pressão seletiva em favor desses medos.(5) Apesar dos predadores não serem mais uma ameaça, e de termos casas aquecidas, os reflexos, instintos e necessidades do bebê humano moderno ainda estão ligados ao estilo de vida do estágio da caça. As mudanças culturais ocorreram muito rapidamente para que tivessem um grande impacto na composição genética da nossa espécie desde aquela época…
Pesquisadores estudaram os padrões de sono e as ondas cerebrais dos bebês que dividem a cama com suas mães, comparados aos que dormem sozinhos. Os bebês que dormem com as mães despertam mais vezes e também ficam menos tempo em sono profundo do que os bebês que dormem sozinhos. Isso se deve provavelmente aos sons e movimentos da mãe durante seu próprio sono.(6)
Este estímulo durante a noite foi sugerido como uma possível proteção contra a síndrome da morte súbita infantil (SIDS). Uma teoria para a causa da SIDS é que as crianças dormem tão ruidosamente que são incapazes de despertar a si mesmas e continuar respirando durante um episódio de apnéia.(7) Estudos comparativos entre várias culturas mostraram que, nas culturas em que os bebês são pegos no colo regularmente e em que as mães dormem com as crianças, a média de incidência de SIDS é mais baixa comparada às médias das culturas em que estas práticas não são seguidas.(8) Os pesquisadores não estão dizendo que dormir sozinho causa SIDS, mas sugerem que deixar o bebê dormir com a mãe pode ser um fator de proteção para as crianças que têm o risco de morrer de SIDS.
Dormir com seu bebê pode exigir tempo de adaptação, mas com um pouco de insistência, dividir a cama pode se tornar um prazer para todos. Entretanto, se isso não funcionar bem para você, então pelo menos você pode proporcionar a intimidade física a seu bebê até que ele adormeça, e pode atendê-lo prontamente quando ele acordar durante a noite.
Referências
1. Renggli, F. (1992). Selbstzerstörung aus Verlassenheit: Die Pest als Ausbruch einer Massenpsychose im Mittelalter. Rasch und Röhring Verlag.
2. Renggli, F. (1992). (See 1)
3. Thevenin, T. (1987). The Family Bed: An Age Old Concept in Childrearing. Wayne, NJ: Avery Publishing Group, Inc. (First published in 1976). Sears, W. & Sears, M. (1993). The Baby Book: Everything you Need to Know About Your Baby from Birth to Age Two. Little, Brown & Company. Granju, K.A. & Kennedy, B. (1999). Attachment Parenting: Instinctive Care for Your Baby and Young Child. Pocket Books.
4. Freud, A. (1965). Normality and Pathology in Childhood. New York: International Universities Press.
5. Scott, J.P. (1967). The process of primary socialization in canine and human infants. In J. Hellmuth (Ed.), Exceptional Infant. Vol. 1: The Normal Infant. Seattle: Special Child Publications.
6. Mosko, S., Richard, C., & McKenna, J. (1997). Infant arousals during mother-infant bed sharing: implications for infant sleep and sudden infant death syndrome research. Pediatrics, 100(5), 841-849.
7. Mosko et al. (1997). (See 6)
8. Rognum, O.T. (1995). Sudden Infant Death Syndrome: New Trends in the Nineties. Oslo, Norway: Scandinavian University Press.
Segurança para Compartilhar a Cama
As seguintes dicas de segurança se aplicam a qualquer pessoa que compartilhe a cama com um bebê (não apenas a mãe).
- Não use nenhum tipo de droga que possa afetar seu sono (álcool, tranqüilizantes, antidepressivos, drogas ilegais, etc.)
- Nunca fume no quarto onde um bebê dorme.
- Use um colchão firme. Não durma com seu bebê em um colchão macio ou colchão d’água, puff, ou sofá.
- Tome precauções para que seu bebê não caia da cama.
- Evite fendas entre a sua cama e a parede. Tenha certeza de que há um encaixe perfeito entre o colchão e a parede e a cabeceira, e use protetores acolchoados, como no berço.
- Nunca coloque o bebê em um travesseiro.
- Sempre coloque seu bebê para dormir de costas.
- Não use edredons.
- Não coloque na cama nenhum bichinho de pelúcia (ou de verdade!).
- Não durma com seu bebê se você está obeso.
- Prenda o seu cabelo se ele for muito longo.
- Não deixe seu bebê compartilhar a cama com outra criança.
- Não coloque seu bebê próximo a cortinas com cordões pendurados.
- Nunca deixe seu bebê sozinho em uma cama de adulto.
Este texto pode ser lido, original em inglês, em http://www.awareparenting.com/sleep.htm
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