sábado, 6 de maio de 2017

Prometeu Acorrentado

É impossível não contar a história do titã Prometeu sem falar sobre o fogo.

O culto do fogo, entre todos os povos da antiguidade, seguiu imediatamente ao que se atribuiu ao Sol e a Júpiter (Zeus), isto é, ao astro cujos raios benéficos aquecem e iluminam o mundo, e ao raio que rasga a nuvem, açoita a terra, consome a natureza viva e espalha ao longe a consternação e o tenor.

Evidentemente os primeiros homens, cujos olhares se dirigiam com medo e admiração para os fogos celestes, não tardaram também em reparar com espanto nos fogos da terra. Seria possível que eles deixassem de admirar a chama dos vulcões, as fosforescências, os gases luminosos, os fogos-fátuos dos pântanos, a incandescência produzida pelo atrito rápido de dois pedaços de madeira, a fagulha que surge do choque de duas pedras?


Entretanto, o fogo não lhes parecia ter sido feito para o seu uso; era um elemento do qual a divindade possuía o segredo, e que ela se reservava como um privilégio precioso. Como captar esses focos de calor e de luz, colocados a uma tal altura, sobre as suas cabeças, ou tão misteriosamente soterrados sob os seus pés?
Aquele que primeiro conseguisse o fogo não podia ser a seus olhos um simples mortal, mas um Titã, um êmulo atrevido e feliz da divindade, ou por assim dizer, um verdadeiro deus. Tal foi Prometeu.

Filho de Japeto e da Oceânida Climene, ou, segundo outro, da Nereida Ásia, ou ainda de Temis, irmã mais velha de Saturno.

Prometeu, cujo nome em grego quer dizer “previdente“, não foi só um deus industrioso mas também criador. Ele notou que entre todas as criaturas vivas nem uma havia capaz de descobrir, de estudar, de utilizar as forças da natureza, de comandar os outros seres, de estabelecer entre eles a ordem e a harmonia, de se comunicar com os deuses pelo pensamento, de compreender pela sua inteligência não somente o mundo visível, mas ainda os princípios e a essência de todas as coisas: e do limo da terra, formou o homem.

Minerva, admirando a beleza da sua obra, ofereceu a Prometeu tudo quanto pudesse contribuir para a sua perfeição. Com conhecimento, Prometeu aceitou a oferta da deusa, mas acrescentou que, para escolher o que criara, era preciso que ele próprio visse as regiões celestes.

Minerva arrebatou-o ao céu, donde ele só desceu depois de haver roubado aos deuses, o fogo, elemento indispensável à indústria humana. Diz-se que esse fogo divino que Prometeu trouxe para a terra era do carro do Sol, e que ele o escondeu na haste de uma férula, que era um bastão oco.

Irritado com tão audacioso atentado, Júpiter ordenou a Vulcano que foijasse uma mulher dotada de todas as perfeições, e que a apresentasse à assembléia dos deuses. Minerva revestiu-a com uma túnica de ofuscante brancura e lhe cobriu a cabeça com um véu e com grinaldas de flores sobre as quais colocou uma coroa de ouro.

Quando estava acabada Vulcano levou-a ao Olimpo com as suas próprias mãos. Todos os deuses admiraram essa nova criatura, e cada um quis fazer-lhe o seu presente. Minerva ensinou-lhe as artes que convêm a seu sexo.

Vênus espalhou em torno dela o encanto como desejo inquieto e os cuidados fatigantes. As Graças e a deusa da Persuasão ornaram a sua garganta com colares de ouro. Mercúrio deu-lhe a palavra com a arte de persuadir os corações com discursos insinuantes.

Tendo enfim os deuses feito cada qual os seus presentes deram-lhe o nome de Pandora. Quanto a Júpiter, deu-lhe uma caixa hermeticamente fechada, dizendo-lhe que a levasse a Prometeu.

Esse, desconfiado de alguma armadilha, não quis receber nem Pandora nem o cofre, e recomendou a seu irmão Epimeteu que nada recebesse da parte de Júpiter. Mas Epimeteu, cujo nome em grego significa “o que reflete demasiadamente tarde”, só julgava as coisas depois dos acontecimentos.

Ao ver Pandora esqueceu todas as recomendações fraternas, e tomou-a por esposa. Ao abrir a caixa fatal, escaparam-se todos os males e todos os crimes que desde essa época estão espalhados pelo Universo. Demasiadamente tarde Epimeteu quis fechá-la, mas só conseguiu reter a Esperança, que estava quase a desaparecer, e que permaneceu no cofre escrupulosamente fechado.

Júpiter, furioso de que Prometeu não tivesse sido logrado com esse artifício, ordenou a Mercúrio que o conduzisse ao monte Cáucaso e que o amarrasse ao rochedo, onde uma águia, filha de Tifon e de Equidna devia devorar-lhe lentamente o fígado.
Dizem outros que esse suplício só devia durar trinta mil anos. Segundo Hesíodo, Júpiter não se serviu da intervenção de Mercúrio; ele mesmo foi quem atou a sua desgraçada vítima, não a um rochedo, mas uma coluna.

Fê-lo entretanto libertar por Hércules, pelos seguintes motivos e condições:

Depois da sua punição, tendo Prometeu pelos seus avisos impedido a Júpiter de galantear a Tetis, porque a criança que dessa união nascesse havia de destroná-lo um dia, o pai dos deuses, por gratidão, consentiu que Hércules o fosse soltar.
Mas, para não violar o seu juramento de que nunca o libertaria, ordenou que Prometeu havia de usar sempre no dedo um anel de ferro com um fragmento de rocha do Cáucaso engastada, para que de qualquer modo fosse verdade que estivesse para sempre preso a essa montanha.

Conta Esquilo que foi Vulcano quem, na sua qualidade de ferreiro dos deuses, encadeou Prometeu no Cáucaso, mas que foi gemendo que obedeceu a ordem de Júpiter, pois muito lhe custava tratar com violência a um deus da sua raça.

Entre os atenienses a fábula de Prometeu era popular; divertiam-se em contar mesmo às crianças as engenhosas malícias por esse deus feitas a Júpiter.

Pois não tivera ele com efeito a ideia de experimentar a sagacidade do senhor do Olimpo, e de verificar se na verdade ele merecia as honras divinas?

Assim se conta que, em um sacrifício, Prometeu fez matar dois bois, e encheu uma das duas peles com a carne e a outra com os ossos dessas vitimas. Júpiter enganou-se e escolheu a segunda pele, o que fez tomar-se ainda mais impiedoso na sua vingança.

Em Atenas, Prometeu tinha os seus altares na Academia, ao lado dos que eram consagrados às Musas, às Graças, ao Amor, a Hércules, etc. Não se esqueciam, também, que Minerva, protetora da cidade, fora a única das divindades do Olimpo que admirara o gênio de Prometeu e o ajudara na sua obra.

Na festa solene das Lâmpadas os atenienses associavam nas mesmas honras Prometeu, que furtara o fogo celeste, Vulcano, senhor engenhoso dos fogos da terra, e Minerva, que dera o azeite de oliveira. Por ocasião dessa festa, os monumentos públicos, as ruas, as encruzilhadas estavam iluminadas: instituíam-se jogos e corridas com fachos, como nas festas de Ceres.

A mocidade ateniense reunia-se à tarde perto do altar de Prometeu, ao clarão do fogo que ainda ardia: a um sinal dado, acendia-se uma lâmpada que os pretendentes ao prêmio da corrida deviam levar sem apagá-la, correndo a toda velocidade, de um a outro extremo do Cerâmico.

Fonte : Todamateria/Mitogoliaonline

Filosofia Grega

A Filosofia tem lugar de nascimento, a Grécia, e um “pai”, Tales de Mileto. A Filosofia grega surgiu a partir da poesia, da religião e das condições sociopolíticas.



A Filosofia, como conhecemos hoje, ou seja, no sentido de um conhecimento racional e sistemático, foi uma atividade que, segundo se defende na história da filosofia, iniciou na Grécia Antiga formada por um conjunto de cidades-Estado (pólis) independentes. Isso significa que a sociedade grega reunia características favoráveis a essa forma de expressão pautada por uma investigação racional. Essas características eram: poesia, religião e condições sociopolíticas.

Costuma-se dividir a Filosofia Grega em quatro períodos:

a) Período pré-socrático – do século VII ao século V a.C. Caracterizado pela investigação acerca da physis e pelo início de uma forma de argumentar e expor as ideias;

b) Período socrático – do final do século V ao século IV a.C. Caracterizado pela investigação centrada no homem, sua atividade política, suas técnicas, sua ética. Também considerado o apogeu da filosofia grega;

c) Período pós-socrático – do século IV ao século III a.C. Caracterizado pela tentativa de apresentar um pensamento unificado a partir de diversas teorias do passado. Interessava em fazer a distinção entre aquilo que poderia ser objeto do pensamento filosófico.

d) Período helenístico ou greco-romano – do século III a.C. ao século VI d.C. Engloba o período do Império Romano e dos Padres da Igreja. Trata-se das relações entre o homem, a natureza e Deus.

Poesia grega 

Os poetas gregos, como Homero, desempenhavam papel bastante importante na educação dos jovens gregos. Os poemas homéricos continham características que serviriam de base para o desenvolvimento da filosofia. A principal delas é a busca pelas causas dos acontecimentos narrados, procurando uma narrativa que contemplasse a realidade da forma mais completa possível.

Outro poeta grego, Hesíodo, tem grande importância para o pensamento grego por ter narrado o nascimento dos deuses, uma forma de tentar explicar a origem do universo, tema que apareceria no primeiro filósofo, Tales de Mileto. A Teogonia de Hesíodo faz coincidir os deuses com fenômenos da natureza e partes do universo, que teria sido originado a partir de Caos, o primeiro deus a se gerar.

Além disso, temos dois temas que aparecem nos poetas que marcarão o início da filosofia grega: a noção de justiça como valor supremo e o conceito de limite, que Aristóteles desenvolveria como a noção de “justa medida”.

Religião

Havia duas expressões da religião grega: a religião pública, aquela que conhecemos pelos poemas de Homero e a religião dos mistérios, praticada em círculos restritos por aqueles que não consideravam suficiente a religião pública.

Dentre os “mistérios”, aquele que mais importa para o nascimento da filosofia grega é o Orfismo, nome derivado de seu fundador, o poeta trácio Orfeu. O Orfismo inaugura uma concepção da existência humana distante do naturalismo: enquanto a religião pública considerava o homem mortal, o Orfismo opõe corpo e alma, sendo que o corpo seria mortal, mas não a alma. Do Orfismo são tributárias as filosofias de Pitágoras, Heráclito, Empédocles e Platão.

Outro aspecto importante da religião grega era a inexistência de um livro sagrado. As crenças eram difundidas pelos poetas, mas com uma visão não dogmática e sem uma autoridade que teria o direito de proteger os dogmas. Com isso, os filósofos gregos não enfrentaram resistência religiosa à sua liberdade de pensamento.

Condições sociopolíticas

Antes de existirem as polis, a sociedade grega se agrupava em comunidades compostas por pessoas com um antepassado em comum, comunidades chamadas de genos. O poder de decisão era concentrado na figura do mais velho do grupo, o pater. Com o aumento do número de pessoas em relação à quantidade de terras produtivas, iniciaram-se conflitos e, depois de um extenso desenrolar histórico, surgiu a noção de propriedade privada: para resolverem os conflitos no interior dos genos, decidiu-se dividir as terras. Essa decisão, no entanto, foi baseada no critério mais forte para eles, o grau de parentesco. Assim, a proximidade sanguínea com o patriarca determinou tanto aqueles que se tornaram grandes proprietários, tanto aqueles que ficaram sem terras e se tornaram escravos ou artesãos.

Formaram-se assim as fratrias, pelo reagrupamento dos genos, e a organização das fratrias, deu origem às tribos. As tribos eram independentes e, por isso, podiam combater entre si. Entre as tribos que conhecemos, destacaram-se os aqueus, os eólios, os dórios e os jônios. Então, a Grécia Antiga não era formada por um Estado único e quando falamos “os gregos”, não falamos sobre um único povo. Aos poucos, cada tribo fundou uma cidade-Estado, ou seja, uma polis, no ponto mais alto da região onde se situavam.

Muitos aqueus se instalaram em ilhas e em costas da Ásia Menor; os jônicos fundaram cidades como Mileto e Éfeso. Por conta das condições geográficas, eles desenvolveram atividades econômicas voltadas para a navegação, comércio e artesanato. A adoção do regime monetário fortaleceu aqueles que viviam dessas atividades e se afastaram da organização social micênica que tinha seu fundamento na aristocracia de sangue.

A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com uma explicação mítica da realidade. O processo de transformação e de criação envolvido no desenvolvimento de técnicas leva ao questionamento a respeito do universo, se ele também não respondia a um processo semelhante.

É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), litoral ocidental da Ásia Menor que as perguntas a respeito da natureza exterior do mundo se desvincularam da mitologia. Os dados da experiência sensível (frio, quente, pesado, leve, por exemplo) passaram a ser explicados de uma forma racional. Eram entendidos também como realidades em si – por isso se falava em “O quente”, “o frio”, “o pesado”, “o leve”.

Por meio desse exercício do pensamento, os filósofos pretendiam analisá-los em relação ao todo, pois a razão parecia exigir uma unidade no lugar da multiplicidade que até então não havia sido problematizada.

Os principais pensadores da escola de Mileto (ou também “escola jônica” ou “milesiana”) são Tales, considerado o pai da filosofia, Anaximandro e Anaxímenes. Os pensadores dessa escola se caracterizam pela preocupação com a physis, palavra grega que pode ter o sentido de “natureza ou fonte originária”, mas também de “processo de surgimento e de desenvolvimento”.

Importante notar que nessa época não havia uma clara distinção entre as áreas do saber como temos hoje – ciência, religião, filosofia e matemática, por exemplo. Por esse motivo, muitos dos filósofos pré-socráticos podiam ser também líderes religiosos, cientistas, médicos ou matemáticos.

Período pré-socrático

O período pré-socrático compreende a escola jônica, pitagórica, eleática e pluralista.

A escola jônica recebe esse nome por se referir a filósofos nascidos na Jônia, colônia grega da Ásia Menor. Caracteriza-se pela pergunta a respeito da origem da natureza, para determinar o elemento que deu origem a todos os seres. Os principais filósofos jônicos são Tales, Anaximandro, Anaxímenes e Heráclito.

A escola pitagórica tem seu nome derivado do nome de seu fundador e principal representante: Pitágoras de Samos. Ele defendia que todas as coisas são números e o princípio fundamental de tudo seria a estrutura numérica, ou seja, o mundo surgiu quando precisou haver uma limitação para o ápeiron e essa limitação eram formas numéricas sobre o espaço. Os pitagóricos faziam um amálgama de concepções, como era comum na época. Desse modo, embora racionais e matemáticos, os pitagóricos também baseavam suas doutrinas em concepções místicas.

Acreditavam que o corpo aprisionava a alma, imortal, e o objetivo da existência seria o de tornar a alma mais pura. A reencarnação era uma consequência desse pensamento, pois a cada vida era possível elevar mais as virtudes da alma e reencarnar-se em uma forma mais elevada. Tinham, portanto, uma visão espiritual da existência. Outros pensadores importantes dessa escola: Filolau, Arquitas e Alcmeón.

A escola eleática tem o nome derivado da cidade de Eleia, ao sul da Itália, lugar onde se situaram seus principais pensadores: Xenófanes, Parmênides, Zenão e Melisso. Caracteriza-se por não procurarem uma explicação da realidade baseada na natureza. Suas preocupações eram mais abstratas e podemos ver nelas o primeiro sopro de uma lógica e de uma metafísica. Defendiam a existência de uma realidade única, por isso são conhecidos também como monistas em oposição ao mobilismo (de Heráclito, principalmente, que acreditava na existência da pluralidade do real). A realidade para eles é única, imóvel, eterna, imutável, sem princípio ou fim, contínua e indivisível.

A escola pluralista que inclui a escola atomista e os pensadores Anaxágoras e Empédocles, tem esse nome porque seus pensadores não acreditam na existência de um princípio único que seja a origem do universo e sim de vários princípios que se misturam e formam tudo o que conhecemos. Para os atomistas, tudo o que existe é composto de “átomo” e “vazio” que em um processo contínuo de atração e repulsão constituem a realidade existente.

Período Socrático

A importância de Sócrates para a história da filosofia é tal que todos aqueles que vieram antes dele são chamados de pré-socráticos. Isso significa que a forma como a filosofia ocidental se desenvolveu é tributária da forma como Sócrates entendia o que era a atividade de filosofar e à sua investigação a respeito do humano, que ele inaugurou.

A filosofia de Sócrates se desenvolvia a partir de diálogos e era composta de dois momentos básicos: A refutação ou ironia e a Maiêutica.

A ironia era a etapa em que Sócrates perguntava o que as pessoas sabiam para que, elas próprias, ao tentarem defender suas opiniões, percebessem a limitação de seus argumentos, a contradição entre eles e a imprecisão de seus conceitos.

Para Sócrates, é importante para todos aqueles que querem conhecer alguma coisa, começar reconhecendo a própria ignorância. Para conduzir seus interlocutores a reconhecerem que não sabiam sobre aquilo que conversavam, Sócrates iniciava seu diálogo com perguntas que faziam parecer que ele também não sabia sobre o assunto. E esse é o sentido original da palavra ironia: derivada do verbo eirein (perguntar), ironia tinha o sentido de interrogação fingindo ignorância.

A maiêutica, em seu sentido original: a arte de parir, era a segunda fase do diálogo. Como foi dito, Sócrates via nas artes desenvolvidas por seus pais como uma espécie de orientação para seu método filosófico. Se, na fase da ironia, suas perguntas visavam estimular seus interlocutores a mostrarem seus pontos de vista, na fase da maiêutica, suas perguntas eram para estimular que eles criassem suas próprias definições a respeito daquilo que estava sendo discutido. Mas isso era progressivo, ou seja, ele conduzia calmamente o interlocutor de pergunta em pergunta; a cada resposta, ele fazia outra pergunta que revelava a contradição existente na resposta dada.

Fonte: TodaMáteria/ InfoEscola

Revolução dos Cravos