sexta-feira, 18 de abril de 2014

A Paixão de Cristo




  A paixão de Cristo: 

Os últimos cinco dias que Jesus Cristo passou vivo foram emocionantes. Tanto para ele como para seus seguidores. A entrada triunfal dele em Jerusalém na semana da páscoa judaica, os tumultos que sua presença causou ao redor do Templo Sagrado, as altercações com os fariseus, a última ceia, a traição, a prisão, o julgamento, a flagelação e a crucificação, tudo foi muito rápido, avassalador, compondo os atos do Drama da Paixão. Episódio trágico até hoje representado no mundo inteiro pelas comunidades cristãs. 

  A páscoa em Jerusalém:

"A religião, até hoje, não teria existido sem uma parte de ascetismo, de devoção, de maravilhoso." E.Renan – A Vida de Jesus, 1863.

Na páscoa Jerusalém lotava. Em situações normais acredita-se que a cidade não comportasse mais de 50 mil habitantes na época de Jesus Cristo. Todavia, durante as grandes festas judaicas, multidões vindas de todas as partes do País de Canaã para lá afluíam. As cercanias ao redor do Beit Hamikdash, o Templo Sagrado, tornavam-se um vespeiro humano com o entra e sai daqueles que para lá iam depositar suas oferendas nos altares santos e fazer as prostrações. 

Vindo da Galiléia, um tanto que fugido, sentindo-se ameaçado pela polícia de Herodes Antipas, Cristo decidiu-se por fazer uma entrada triunfal na cidade santa. Para afirmar publicamente que o seu reinado, ao contrário da monarquia herodiana, era o império dos simples, adentrou pelo portão montado num jumentinho. A multidão local, lançado Hosanas, recebeu-o como "o filho de Davi", alguém que havia herdado do lendário rei o poder de fazer curas e operar milagres. Entretanto, o recém chegado logo se indispôs com meio mundo. 

  A PALESTINA NO TEMPO DE CRISTO.

  Herodes o Grande e dois de seus filhos:

A Palestina, na ocasião chamada de País de Canaã (da cor púrpura, em fenício), estava ocupada pelas legiões romanas desde que Pompeu fizera de Jerusalém seu quartel-general, no ano 63 a.C. Sabendo que a única maneira de manter uma certa autonomia dos judeus era aliando-se aos romanos, o rei Herodes, dito o Grande, da etnia dos ismodeus judaizados, resolveu associar-se inteiramente aos desígnios de Roma. Desde o ano de 38 a.C. ele, com o beneplácito dos triúnviros Marco Antônio e Otávio, fora indicado como Rex amicus et socius populi Romani. 

A política de Herodes foi sempre apoiar o principal caudilho romano, posição essa que não era bem vista pelo seu povo em geral. Mas o que poderia fazer o pequeno reino de Israel frente às águias imperiais cujas asas estendiam-se por boa parte do mundo europeu e mediterrâneo? Assim é que os hebreus tiveram que conformar-se em submeter-se ao Regime do Protetorado. Quanto Herodes o Grande morreu, no ano 4 a.C. (data que virou festa judaica), seu reino foi dividido numa tetrarquia entre seus filhos. O próprio povo, por meio dos altos sacerdotes, intercedeu junto as autoridades de ocupação para que os poderes tirânicos da dinastia herodiana fossem limitados por Roma.

  A tetrarquia e os procuradores romanos:

A Arquelau coube a posição de tetrarquia (uma espécie de governador de província) da Judéia e da Samária, a Herodes Antipas a parte da Galiléia e da Perea, enquanto que o seu irmão Herodes Filipe ficou com a Iturea e a Galaunítida. Todos eles inteiramente obedientes ao Legatus Augustae, ao governador-geral romano da Síria. Este por sua vez se fazia representar na região através de um procurador cuja sede oficial ficava na cidade de Cesaréia Marítima, deixando que Jerusalém permanecesse no controle simbólico do sinédrio, da assembléia dos anciãos responsáveis pelo Templo Sagrado, presidida por um sumo-sacerdote. 

  Na época de Cristo, ele chamava-se Caifás. 

Os romanos, seguindo a tradição de serem liberais nas questões religiosas, permitiam que os judeus mantivessem suas cerimônias e se comprometeram a não perturbarem os rituais ou a profanarem os espaços sagrados deles. Tanto assim que causou enorme tumulto quando Herodes o Grande, num gesto de querer agradar os ocupantes, mandara expor uma águia dourada, símbolo romano, numa das entradas do Templo. Perturbação que obrigou os romanos a submeterem os hierosolimitas, a população de Jerusalém, ao duro braço da legião.



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A tensão entre a população e os ocupantes era pois constante, resultando em intermináveis desavenças e amotinamentos que eram reprimidos sem dó pelos centuriões (desavenças essas que três décadas depois da morte de Cristo gerarão a grande rebelião judaica de 66, seguida da destruição de Jerusalém pelos romanos no ano de 70). Além das rivalidades que separavam os saduceus (mais conciliadores) dos fariseus (os “separados”), os escribas e doutores da lei que desejavam viver o mais próximo possível de acordo com a Lei Mosaica, havia ainda entre os judeus uma facção extremista, a dos zelotes. 

Muitos deles atacavam os romanos, e aqueles que colaboravam com eles, armados com punhais (sikos, em grego), dai também serem designados como sicários. 

Seguramente foi essa instabilidade crescente que fez com que a administração romana aumentasse ainda mais a sua presença na região, transformando o Regime do Protetorado (que se estendeu de 38 a.C. ao ano 6 d.C.), onde os tetrarcas tinham certa autonomia, numa a ordem política mais controlada diretamente por eles: a dos Procuradores Romanos (de 6 a 66 d.C.).

  Jesus Cristo se indispõe:

Em Jerusalém, indignou-se Cristo com a presença de centenas de vendedores que ocupavam o adro do Templo para negociarem de tudo, inclusive pombas a serem dadas em holocausto. Agindo com o cajado na mão para afastar dali os profanadores, disse que aquele era um espaço para orar e não mercadejar. A tensão aumentou ainda mais no dia seguinte. Instalado nas escadas do Templo para pregar a chegada do Reino dos Céus, logo atraiu a atenção dos escribas e dos fariseus, que questionaram a presença dele naquele recinto.

Como Jesus fora batizado, uns tempos antes, por João Batista (o famoso profeta que, quando preso na fortaleza de Maquerunte, tivera a cabeça decepada a mando de Herodes Antipas, para antender o pedido da sua esposa Herodíade), acreditou que não devia dar explicação aos burocratas do Templo. 

Como o assédio deles o incomodava, pois não cessavam as provocações, o Nazareno reservou a eles uma bateria de maldições, sete no total, nas quais clamou abertamente para que o povo local não seguisse aquela gente serpentina de dupla cara e atitude hipócrita que dominava o Templo. Assim, em pouco tempo, ele declarou guerra ao comércio e à burocracia sacerdotal, tendo ao seu lado somente um punhado de seguidores que tinham vindo com ele desde a Galiléia.

Não só isso, lançando mão de algumas parábolas, profetizou que os judeus perderiam em breve o estatuto de ser o Povo Eleito de Deus (a mais explicita delas foi a dos “vinhateiros homicidas”, Mateus 21-22), como por igual imprecou contra Jerusalém acusando-a de matar os profetas e apedrejar os que eram enviados a ela, vaticinando que “ a vossa casa ficará abandonada” (Mateus 23-24). Não é de se estranhar, assim, que o considerassem como alguém abertamente dissidente do judaísmo de então.

  A última ceia:

Entre um dia e outro, ele se recolhia à casa de Simão, o leproso, na aldeia de Betânia, para mostrar a todos que nada podia assustá-lo. Os testemunhos indicam, todavia que o seu temperamento se alterara naqueles dias derradeiros. Tornou-se pensativo e tristonho. Em três ocasião anteriores ele alertara os discípulos que a vinda dele para Jerusalém resultaria na sua morte e ressurreição (Mateus 16;17-18;19-20).

Na noite de quinta-feira, véspera da Sexta-feira da Paixão, no jardim de Getsémani, no Monte das Oliveiras, fez a derradeira reunião com seus apóstolos. Durante a ceia, quando deu-se a Eucaristia, a partilha do pão e do vinho entre ele e os seus, previu a traição de um deles. De fato, Judas Escariotes entregou-o a gente do Templo por 30 moedas de prata. Seguramente deve tê-lo chocado a covarde debandada dos seus seguidores quando, encerrado o encontro, a guarda chegou para levá-lo.

  DO PRETÓRIO AO GÓLGATA.

  A Ressurreição de Cristo:

As denúncias recebidas por Caifás, o sumo sacerdote e principal autoridade teocrática judaica, obrigara-o a mandar deter Cristo. O fato dele se apresentar como Rei dos Judeus colocava-o na posição de agente subversivo: contra o Templo, que não lhe reconhecia nenhuma autoridade mística e contra o Governo dos Procuradores instalado por Roma, que naquela ocasião era exercido por Pôncio Pilatos. 

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  A briga com os vendilhões e as discussões públicas com os escribas selaram-lhe o destino.

O julgamento dele foi sumaríssimo. Levado na mesma noite à corte do Sinédrio, o grande tribunal dos anciãos, Caifás acusou-o de blasfemo. Crime punido com a morte. Se fosse seguida a lei mosaica ele seria lapidado. Os romanos encarregados de aplicar o ius gladii, preferiam a crucificação. Na presença de Pilatos, o prefeito da Judéia (*), provavelmente instalado na Torre Antônia, ao lado do Templo, para a decisão final, ele não esboçou nenhum gesto de defesa.

A turba que estava presente, na hora em que o romano lançou mão da venia, o direito de suspensão de uma sentença proferida, saudou o nome de Barrabás, um delinqüente local. Cristo, apupado, aceitou o martírio. No calvário até chegar ao Gólgota, a colina em forma de caveira situada fora da cidade, ele, além de carregar o lenho, passou pelo inferno das vergastadas e demais flagelos que os romanos costumavam aplicar aos sentenciados que padeciam na cruz. Somente as mulheres o acompanharam até o derradeiro suspiro (João, o evangelista, assegurou que ele era o único dos seguidores que estava presente).

(*) O procurador Pôncio Pilatos estava em Jerusalém para acompanhar a páscoa e, com sua presença, evitar a ocorrência de possíveis perturbações da ordem. Herodes Antipas, o tetrarca, também lá se encontrava por ocasião do julgamento de Cristo, mas apenas para se fazer presente naquela ocasião festiva. 





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Como nos deixamos enganar com facilidade! 
Desde que sejam as palavras bonitas, inspiradoras; que nos toquem os sentimentos, que façam sofrer nosso coração, que nos  emocionem e nos façam bem, aceitamos aquilo que nos dizem como sendo verdade; consideramos que tudo está certo, sem sequer analisar!

Observem o que disse o autor citado pela nossa irmã! 
(Só estou escrevendo isto para tentar, e isso é muito importante para quem busca a vida do espírito, mostrar que não se deve aceitar todas as interpretações que outros fazem e nos dão como verdades. Não que haja qualquer intenção de corrigir o que, naquele texto, está escrito. Pois que esses fatos não tem tanta importância assim; são apenas detalhes. O essencial são os ensinamentos que esse homem realizado deixou para os semelhantes).
 
Em primeiro lugar, os eventos dos últimos dias de Jesus não compõem os atos do Drama da Paixão. Pode até dizer-se que complementam, mas não que compõem. A paixão de Jesus, conforme as escrituras, vem desde sua infância quando já demonstrava amor pelo semelhante; ou a partir do momento de sua iluminação, talvez aquele momento em que “o céu se abriu” sobre sua cabeça, no seu batismo no Jordão. Paixão significa “amor extremado”, que é o que todos que se iluminam tem despertado em seu coração, pelos homens que não despertaram ainda e que, por isso, estão sofrendo. Pode-se dizer que, por essa paixão pelo mundo, Jesus foi preso, torturado e executado. Como todos os que se iluminam, não conseguiu se calar e, onde estivesse falava, na tentativa de abrir os olhos dos demais para o caminho do conhecimento da verdade, que é o que ilumina e que salva. Paixão significa amor extremado, que leva até a morrer na tentativa de ajudar o próximo.

E, meus irmãos, vejam mais:
Jesus, um iluminado, pois que percebeu que era “um com o Pai”, um homem de sua estatura moral e espiritual, nunca se indignaria com vendilhões à porta do templo ou com o que quer que fosse. Por sua compreensão, fruto de sua consciência divina, conheceria muito bem o que os homens são capazes de fazer e porque o fariam; conhecia muito bem a extensão da ignorância e imperfeição dos semelhantes. Ele deve ter tido, sim, pena, sentimento de pena. Ao constatar, mais uma vez, essa ignorância e imperfeição, e isso conseqüente do ponto de aprendizado a que os semelhantes ainda se encontravm, deve ter sentido sua compaixão mais uma vez aflorar. Em vez de mostrar repulsa pelo que os homens faziam, deve ter-se sentido ainda mais compadecido. Nunca, o iluminado que aconselhou a “oferecer a outra face”, levantaria a mão contra quem e contra o que quer que fosse.

Novamente, outro absurdo é alguém chegar crer que Jesus amaldiçoou aqueles que se mostravam hostis a ele. Percebam isso! Um homem como Jesus nunca amaldiçoaria o que quer que fosse. Como sempre, perdoaria, ensinaria e amaria mais, e com mais desejo ainda de se que os demais compreendessem suas palavras, que eram a verdade absoluta. 

E qual a razão de Judas entregá-lo a troco de 30 moedas de prata? Porque os sacerdotes lhe pagariam, se seu paradeiro era conhecido de todos, pois que ele não se ocultava? Andava livremente e às claras pelas escadarias do adro do templo, pelas praças e campos! 

Do mesmo modo, nunca Jesus se chocou com a debandada de seus seguidores. Sabia exatamente o que isso ia acontecer; as próprias escrituras permitem essa dedução, pois que, pouco antes, Jesus já dissera a Pedro que “antes que o galo cantasse três vezes, tu me negarás duas vezes”.

Outro absurdo é acreditar-se que sofreu o inferno das vergastadas etc. Um homem de sua luz, nada mais sofre; está livre de qualquer sofrimento. Foi, sim, chicoteado, esbofeteado, torturado, mas nisso não há qualquer dor para o iluminado; nem humilhação.

Percebam isso, irmãos. “Não ponham outra cabeça acima da sua”.

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