quarta-feira, 9 de maio de 2012

Andador

 
O andador pode prejudicar a postura e a marcha da criança e, na pior das hipóteses, acabar em traumatismo craniano
Os pais têm se preocupado bastante com a segurança de seus filhos. Principalmente com as crianças pequenas, os cuidados vão desde o tipo e a composição dos alimentos, passando pelo uso adequado de roupas e, mais recentemente, com os brinquedos e os recursos facilitadores do dia-a-dia, como o tipo de carrinho, o bebê-conforto e outros...
E esta é uma atitude essencial dos familiares, pois permite avaliar riscos que muitas vezes não são percebidos de imediato quando compramos um desses bens e que podem criar situações imprevistas, levando a emergências desagradáveis. Muitos devem se lembrar do que ocorreu no ano passado, quando um brinquedo foi retirado do mercado pela empresa distribuidora porque as cores que o ornavam tinham um pigmento tóxico. Outro fato semelhante que pode ser lembrado é o de uma bala arredondada, bastante saborosa, mas ao mesmo tempo com tamanho difícil para ser mantida na boca e muito lisa, favorecendo engasgos perigosos.
Gostaria, agora, de falar de uma engenhoca simples, muito apreciada pelos pais, de preço acessível e até recebida como presente de parentes ou amigos, aparentemente inofensiva: o famoso andador. Como todos sabem, trata-se de uma armação de metal assentada em quatro pezinhos, uma rodinha em cada, na qual está adaptado um assento e que faz a alegria da família. Ali, em geral, são colocados bebês em torno dos 8 meses, que ficam sorridentes mexendo as perninhas de um lado para outro. Que graça!
Logo as crianças aprendem que, na medida em que começam a ter um melhor controle motor, conseguem deslocar-se empurrando o chão com seus pés. E aí começa uma circulação pela casa, para orgulho dos pais e do restante da família. Imaginem, “ele está andando, vai para onde quer”. E é aí que começa o perigo! É sobre isto que gostaria de alertar. Sabem se deslocar e divertem-se pela farra que fazem e por fazer sucesso com os adultos.
Só que esses bebês não têm uma noção do “trânsito” da casa e podem machucar-se trombando com a quina da mesa, ou mesmo chocando-se com a porta ou o batente desta. Em situações de maior seriedade, quando há degraus, o andador poderá virar e favorecer ferimentos mais complexos na face, com lesões nos olhos, na boca e no rosto. Se o acidente acontecer numa escada com vários degraus, pode ser ainda mais grave, com traumatismo craniano e outras fraturas.
O uso prolongado do andador traz ainda outros riscos, podendo prejudicar o controle postural do tronco e do quadril. Ao ficar sentada com este apoio não natural, a criança pode ter dificuldades de estabelecer seu próprio controle para a postura, prejudicando a aquisição da marcha. Ou seja: o andador, por fazer a criança “andar” mais cedo, pode acabar prejudicando exatamente a capacidade de caminhar.
O acessório não precisa ser totalmente banido: ele pode ser utilizado por um tempo limitado, durante a alimentação, ao comer uma papinha, sempre sob o olhar de quem o está cuidando. E, ao usá-lo no momento da alimentação, procure fazê-lo num local plano, o mais distante possível de objetos que possam machucar seu filho.
Segue este alerta que serve para outros produtos que existam na casa. Esta gentinha nova precisa aprender um tanto para que tenha autonomia de livre trânsito.
Dr. Saul é neurologista infantil e diretor do instituto de neurodesenvolvimento integrado (Indi).

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