quinta-feira, 4 de julho de 2013

Compartilhar a Cama com o Bebe - Entrevista

Compartilhar a cama com um bebe é seguro? Como funciona na prática? Quais os beneficios?


Entrevista com Tamara Hiller, parteira comtemporânea Alemã e diretora do Slingando.com, sobre a Cama Familiar. Perguntas feitas por Josie Mendes da revista Yuppie.

Quando e como surgiu o tema cama compartilhada na sua vida? Foi uma escolha do casal?

Meu marido conta que continuava dormindo na cama dos pais, de vez em quando, até os 12 anos. Para ele, compartilhar a cama é cultura familiar. Quando eu era criança tive que dormir sozinha desde cedo, e tenho lembranças do medo e abandono que sentí. Como eu poderia fazer algo à minha filha do qual eu não gostei? Quando engravidei não comprei nem berço nem carrinho. Comprei 3 tipos diferentes de slings e uma cama enorme para todos nós. Na verdade, já muito antes de engravidar para mim estava claro que ia compartilhar a cama com meu bebe. No meu trabalho de obstetriz, na Alemanha, eu visitava as novas famílias em casa depois do parto e pude observar o seguinte padrão: as mães e pais que achavam que lugar do bebe é no carrinho e no berço e que para amamentar tem que ter horários, viviam em constante luta contra a natureza do bebe. Estavam exaustos e frustrados por que o bebe não cumpria com as expectativas deles. Os bebes tinham cólicas e choravam muito. Pelo contrario, as mães que se entregaram plenamente a maternidade, dormindo junto dos bebes, dando de mamar em livre demanda e carregando seus bebes no sling, estavam descansadas, de bom humor e tinham uma vida familiar gratificante, para todos. Os bebes dessas mães sorriam, dormiam e se desenvolviam muito bem. Depois de estudar mais sobre o tema, e ler os estudos sobre "Attachment Parenting" não restou a menor dúvida. Compartilhar a cama é simplesmente o que nosso bebes precisam para crescer com saúde física e mental.



Para você, qual é a principal vantagem da cama compartilhada?



Tudo! Compartilhar a cama não é algo que eu poderia deixar de praticar. Não é uma escolha. É a essência do maternar, para mim. É o que o bebe quer e precisa, então eu dou isso para ele. Eu curto cada minuto que estamos juntos. Por que eu deixaria de satisfazer uma necessidade tão básica da minha filha? Não dormir juntos é uma coisa que não consigo imaginar. Não seria natural nem saudável para ela. É como se me perguntassem qual a vantagem de comer e beber agua. É tudo, é vida, é amor.



Conta pra gente quais são os prós e contras...



Você sempre sabe se a criança esta bem, se ela se descobriu durante a noite ou se tem frio. A mãe não precisa acordar completamente para amamentar, e o bebe não precisa chorar para avisar que esta com fome. Ela da uma mexidinha e já esta no peito. A mãe não precisa se levantar de noite, pelo que descansa mais e melhor. Isto significa mais disposição para as tarefas da maternidade e menor risco de depressão pós-parto. Também é menor o risco de morte de berço, pois o ritmo da respiração da mãe funciona como um marca-passos para o bebe. Estudos mostram que a possibilidade de morte do berço é 4 vezes maior quando a criança dorme sozinha. Ela não precisa estar com medo na escuridão e não se criam traumas de abandono. Estudos mostram também que, crianças que dormem juntos com os pais são mais auto-confiantes, autónomos , felizes e tem uma relação mais saudável com seu corpo e intimidade. Mãe e bebe se sintonizam, se entendem melhor. Dormir juntos diminui cólicas e refluxo, porque diminui o estresse do bebe. Os bebes choram menos, tudo mundo dorme mais, até o pai! Mães que trabalham fora durante o dia aproveitam a noite para compensar as de separação.

Já ouvi de contras sobre cama familiar, mas não os experimentei pessoalmente. Tem pais que dizem que a cama fica pequena. Mas que mundo é este, onde adaptamos nossas vidas ao tamanho da cama, e não o tamanho da cama a nossas necessidades? Tem pais que sentem falta de privacidade e gostariam ter a vida de casal de volta, más isto é um desafio que vale a pena aceitar. Podemos descobrir novas maneiras íntimas e profundas para nos conectar com nosso parceiro, mesmo com nosso bebe nos braços. Redefinir os papeis de mãe e pai e criar um bebe juntos não tem preço para a intimidade do casal. Meu marido e eu nunca nos sentimos tão perto quanto vivendo a maternidade e paternidade conscientemente.

É muito importante mencionar que não é recomendado dormir junto com o bebe no caso de adultos que estão baixo à influencia de álcool, drogas ou medicamentos fortes ou se é fumante. Compartilhar a cama deve ser uma decisão voluntaria e consciente para ser seguro. A cama deve ser preparada com cuidado. Não deve haver brechas entre a parede e cama onde o bebe possa se prender. Não deve haver travesseiros demais ou acolchoados muito pesados. O lugar mais seguro para o bebe é geralmente entre mãe e a parede, para que não possa cair da cama. Geralmente mãe e bebe dormem na posição de amamentar, de lado, com o braço da mãe por cima do bebe. Esta é uma posição segura, entre outras. O corpo da mãe evita que o bebe role e fique de bruços, o que não é recomendado pois aumenta o risco de morte de berço.


Você conhece outras mães adeptas? Vocês trocam informações e experiências?



Todas minhas melhores amigas compartilham a cama com seus filhos. Acho que isso não é por acaso. Nos compartilhamos não só isto, más também outras práticas de como criar nossos filhos. Não somos autoritárias, nem permissivas. Temos filhos que se auto-regulam, que confiam plenamente em nós, adultos, porque sabem que respeitamos suas necessidades básicas. Estamos sempre do lado deles, nunca em contra. Curtimos estar juntos com nossos filhos, aprendendo juntos com eles, praticando o que em inglês se chama de "Attachment Parenting" ou maternar com apego. Esta é uma maneira de criar os filhos com muito contato físico e respeito, cujos resultados positivos já foram comprovados cientificamente.
Sim, nos trocamos experiências e falamos sobre o tema, principalmente sobre a alegria e o prazer de criar filhos desta maneira, mesmo estando em contra da opinião da maior parte da sociedade. Conversamos também sobre os milagres da vida que nossos filhos nos mostram todos os dias, sobre o quanto crescemos com eles e como afinamos nossa intuição materna. Estas amigas, são as mães mais radiantes, descansadas e felizes que conheço.



Uma pergunta um tanto capciosa, que não deixa de ser uma curiosidade, é sobre a intimidade do casal... como faz?

Temos a casa inteira para namorar! As vezes até nossa cama, por exemplo quando nosso filha dorme uma soneca no sofá. Criatividade é tudo!



Na hora de separar os cantos, já planeja algo? Existe uma idade certa?



Não planejamos a saída da nossa filha da nossa cama, não temos porque. É ela quem vai decidir, no momento certo. Estudos mostram que os filhos devem dormir juntos com os pais até pelo menos 5 anos do idade. Esta é a idade mínima. Não existe uma idade limite. Dormir juntos tem beneficios em qualquer idade. Lembrem que a maioria das famílias no mundo compartilha o quarto e cama, durante a vida toda. Não estamos sofrendo por que nossa filha dorme junto conosco, pelo que não estamos ansiosos que ela saia. Os trés estamos curtindo. Tudo vai ocorrer da maneira certa e natural, no momento certo. Não tenho a menor preocupação com isso.


Você acredita que ocorrerá tudo bem, sem manhas?



Sim, absolutamente. Vejo na minha filha e em todos os filhos das amigas, criados com as praticas do "Attachment Parenting" que da muito certo. Temos filhos responsáveis, autónomos, equilibrados, auto-regulados e contentes. O que pode ser melhor que isso? Eu sei que muitos falam de estragar o bebe, criar manhas, etc. Na minha realidade isso não existe. Crianças estragadas com atenção ou contato físico demais não existem. As cadeias e hospícios não estão cheias de adultos que mamaram demais, dormiram juntos com seus pais ou receberam colo demais. Estas estão cheias de gente que não recebeu muita atenção na infância. Estragar ou mimar uma criança é um mito no qual nunca acreditei. Os estudos científicos sobre "Attachment Parenting" provam que não é assim. Colo não estraga. Crianças precisam do vínculo afetivo com seus pais. É uma questão de sobrevivência. É impossível fazer um bebe dormir no berço ou no quarto sem deixar que ele chore ou fazer treinos de sono prejudiciais para ele. Este abandono físico e emocional causa manhas e problemas no futuro, com certeza. Dormir juntos não.



Soube que você é alemã, cama compartilhada é mais comum por lá?



Talvez já é um pouco mais comum que no Brasil, mas não sei exatamente. Sei que muitos pediatras e médicos lá recomendam a pratica de compartihar a cama, porque sabem que é mais seguro para o bebe, ajuda na amamentação e evita a exaustão dos pais.



Você também comanda o site Slingando.com, sobre a prática de Sling Baby. Explica um pouco pra gente porque você adotou esta maneira de carregar o bebê...

Pelos mesmos motivos que adotei a cama familiar. Tem coisas básicas que um bebe espera dos pais: tomar peito a vontade, ser carregado e dormir juntos, por exemplo. Estas práticas foram a norma desde que o ser humano existe. Só nos últimos 200 anos que foram esquecidas ou ignoradas por nossa cultura. Um bebe quer e precisa estar perto da mãe. No primeiro ano ele precisa literalmente estar colado à mãe, pelo que um sling ajuda muito. Isso é fisiológico e normal para a raça humana. Desde que não temos mais pelos no corpo, como os macacos, usamos panos para que nossos filhotes possam estar grudados. Estes panos foram modernizados, dando lugar aos slings. A composição do nosso leite mostra que fazemos parte, biologicamente, de uma especie que carrega seus bebes sempre juntos (carry mammal), e que amamenta a livre demanda, como os macacos e marsupiais. Para mim, ignorar tais práticas milenares, como o uso do sling ou a cama compartilhada, seria perigoso demais. Já temos evidências que o uso excessivo de carrinhos e berços prejudica a saúde dos nossos filhos. Fazemos parte de uma experiência tecnocrática muito arriscada. Deveríamos confiar em práticas que tem milhões de anos de uso e despertar nossa intuição materna, para o bem do futuro do nosso planeta.

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