sexta-feira, 6 de junho de 2014

Ogum


   Ogum (Ògún) é o senhor das cidades de Ondô e de Irê, e orixá que pertence ao princípio da criação. Ele venceu a Idade da Pedra e a Idade do Ferro quando passou a utilizar elementos destas Eras que ajudaram no engrandecimento e no progresso da civilização. Possui adequadamente o nome de asiwajú, “aquele que vem na frente”, “aquele que abre os caminhos”, que pertence ao nascente, ao futuro, ao desenvolvimento, sendo considerado o orixá da evolução. Ogum é o inrunmolé provedor dos ferramentais que possibilitaram ao homem criar utensílios que o ajudaram a viver inserido em uma comunidade, dentro das sociedades.

   Na nação Fon existe um vodum de nome Gún ou Gú, que possui características muito parecidas com a de Ogum. Na nação Bantu, o inquice que mais se assemelha a ele é Roximucumbi.

   Em seus itãs, Ogum ora parece como filho de Iemanjá e Orixalá, ora como de Odudua com Orixalá. Aí se explica a sua grande ligação com os seres humanos, provindo de ambas as mães, consideradas “mães míticas” de todos os seres. Confirma também a sua ampla ligação com as árvores, proveniente de seu pai o criador ancestral funfun, que tem nestas um simbolismo de seus descendentes.

   Senhor do ferro e dos metais, das ferramentarias, é aquele que trouxe conquistas pra o ser humano, participando e colaborando como o criador de variadas profissões. Tido como patrono dos mecânicos, dos engenheiros, dos físicos, dos agricultores, dos soldados, é reconhecido como o orixá organizador de diversas funções que ajudaram a Terra a progredir.

   Ao criar as ferramentas e os instrumentos para cuidar da terra, Ogum criou o homem agricultor, ensinando-o  a produzir e a trazer o sustento de sua família e também de toda uma comunidade. Quando criou as máquinas que permitam cortar e talhar a madeira, permitiu ao homem a profissão de marceneiro, artesão, construtor, carpinteiro, escultor. Ao talhar a flecha e dobrar um arco, ensinou o homem a se abastecer da  caça e da pesca.

   Assim, Ogum foi abrindo um grande leque de profissões, o homem evoluiu e a terra prosperou. Por possibilitar todas essas conquistas, é a ele que o ser humano recorre quando necessita obter seus bens materiais.

   Muito ligado a Exu, de quem é irmão e um grande companheiro, ambos são os guardiões das estradas e das casas. Protetor e senhor dos homens e de seus caminhos, recebe também o nominativo de “senhor dos pés” (oluessé), parte do corpo que permite ao homem se locomover. Pela sua habilidade com os metais, Ogum sofreu uma grande evolução que transformou e fundiu o outrora agricultor com o guerreiro e o caçador que vivem em movimento pelas estradas do mundo. Em relação às suas andanças, tem simbolismo do caçador solitário, daquele que anda pelas montanhas, florestas, e que domina todos os seus mistérios e segredos.

   Contudo, Ogum é considerado principalmente um orixá guerreiro, conquistador, tido como violento, rude e de índole enfurecida. Isto é perfeitamente entendido, pois todo conquistador é antes de tudo, um desbravador, que consegue seus troféus à custa da derrota de outros. Para esta divindade, a posse e o ganho fazem parte de sua personalidade, porque além de ser ele um “orixá de época”, é também pertencente às tradições primitivas. Ogum vem de um tempo em que a guerra existia sem cessar e por qualquer motivo, mas era necessária primordialmente para permitir a liberdade de cidades e pessoas.
No seu tempo Ogum guerreava contra reinos opressores, devastava e saqueava. Na atualidade, o orixá participa conosco de outras guerras, ajudando-nos em nossa luta diária pela sobrevivência e pela superação de nossos problemas, e também nos nossos duelos físicos e espirituais.

   Ogum pode ser chamado de um orixá plural, pois também está inserido na produção de alimentos, sendo um dos pioneiros na agricultura, com Oxaguiã e o orixá Ocô, e também na vida na mata, com Oxóssi. Por sua maleabilidade e pelas possibilidades que deu ao homem, ao criar as ferramentas, tornou-se um desbravador na grande produção dos alimentos, na caça e na pesca. Seus instrumentos que dão vida à terra e fazem esta produzir, tornaram-se seus símbolos e não podem faltar em seus assentamentos, como pequenas enxadas, ancinhos, enxós, arados etc. ou miniaturas de lanças, flechas, espadas, torqueses, varetas, bigornas etc. fazendo uma representatividade das suas habilidades e atividades. 

   Ogum tem seu assentamento colocado ao ar livre, pois não gosta de limites, não aceita a contenção de suas ações e é também o vigia e o guardião interno da propriedade, juntamento com Exu que age externamente. Por esta característica é chamado de orixá “olodê”, ou seja, “senhor do exterior”.
Na feitura de seus iniciados, Ogum demonstra a sua posição fronteiriça, só cedendo seu lugar a Orixalá. Num barco será dada prioridade de iniciação ao filho de Ogum, porque é ele o patrono da tesoura e da navalha que participam do ritual.

   Muito embora Ogum seja o símbolo do ferreiro, não admite a fricção de metal com metal, pois o faz lembrar da guerra e do contato de espada com espada. Em consideração a ele, nas casas de candomblé não se devem amolar facas nem atritar metais. Proibição principal para seus filhos, que, ao agir assim, conseguirão atrair para si a ira e a truculência desse orixá. Seus iniciados também devem evitar passar por trilhos de trem que formem cruzamentos; novamente ferro sobre ferro. Nas encruzilhadas é preciso que se evite passar pelo centro do cruzamento, local favorito de Ogum e onde se pode estar concentrado. É a partir deste lugar que seu poder se redistribui para os caminhos.

   Por ser um orixá desbravador e viver contendas, Ogum utiliza-se de elementos das matas para se vestir e se proteger. Contudo, não possui a vaidade humana e nem dela sente necessidade, sendo por isso o mariô a sua vestimenta preferida. O mariô é confeccionado com as folhas novas do dendezeiro e lhe foi dado por Obaluaiê. Quando veste o mariô, Ogum mostra o seu poder, porque a palha cobre o mistério e seu uso esconde a existência de algo grandioso e perigoso. A força principal de Ogum é a coragem; ele não teme o desconhecido e enfrenta até mesmo a morte, sendo um dos orixás saudados com cantiga especial nos rituais de axexê.

   Em suas danças, ao som dos atabaques e de suas cantigas, ele rodopia, guerreia, faz mesuras de homem primitivo, mas inebria a todos com seu carinho e seu amor rudimentares. Nas cerimônias rituais, o seu alimento preferido é o inhame (isù), uma das mais antigas e principais raízes da agricultura.
Olorum deu aos orixás várias determinações, mas deu uma incumbência muito especial a Ogum: ser amigo e benfeitor do ser humano, e proporcionar a este a segurança e a proteção em seus caminhos.

Generalidades do Orixá:

Como são chamados seus filhos: Ogunssi.

Dia da semana: Terça-feira.

Elemento: Terra.

Simbolo: Espada.

Metal: Ferro.

Cor: Azul-escuro, branco e verde.

Folhas: Peregum, Panacéia, Abre caminho, etc.

Saudação: Ogunhê!

Seus filhos: 

   Os filhos de Ogum costumam ser atléticos, vigorosos e musculosos. Dinâmicos, impulsivos, intransigentes e, em alguns momentos, mostram-se violentos, sem saber equilibrar a convivência social.
Viris e sensuais, fascinam seus/suas parceiros/as, não demonstrando porém muita dedicação ou valorização.

   Muito extrovertidos, gostam de brincar, de rir, de comer bem e de beber. Apreciam viver junto a outras pessoas que tenham o pensamento semelhante ao seu, porém nem se intimidar com as divergências que as diferenças trazem. Contudo, esquentados como são, ofendem-se com facilidade, mas com a mesma rapidez, conseguem esquecer os incidentes. Dependendo do ocorrido ficará a mágoa; essa os filhos de Ogum não esquecem, pois não costumam perdoar as ofensas doloridas.

   Cuidadosos e observadores, não procuram briga, mas não correm dela, porque não têm medo de nada e são poucos que atreverão a contestá-los.
Empreendedores e muito ativos, são trabalhadores incansáveis. Cada dia para eles é como se tivessem que enfrentar e vencer grandes batalhas.


   Bons chefes de família, boas mães, trabalham incessantemente para prover sua prole de todas as necessidades, dentro daquilo que lhes é possível.

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