Abê é o vodum feminino que tem mais semelhanças com Iemanjá, na nação Fon. A “grande mãe” e a divindade das águas salgadas, para os bantus, é Kaitumbé ou Ndandalunda.
No Brasil, Iemanjá transformou-se na “senhora dos mares”, talvez devido à grandeza oceânica de nosso país, mas é também a rainha dos lagos, das lagoas e da junção do rio com o mar – daí o ser chamada de odô-iyá (odò ìyá), “a mãe dos rios”. Pode-se dizer que onde existir água, Iemanjá reinará! Por estar presente em quase todas as águas, ela acolhe e protege também os seus habitantes, advindo daí o seu nome Yeyê omó ejá (Yèyè ómó ejá), “mãe dos filhos peixes”.
Reconhecida como a “mãe de todos os orixás”, recebe e acolhe com amor mesmo os que não foram gerados por ela, mas que foram entregues a seus cuidados. Sua premissa principal é o poder e o título que lhe foram concedidos por Olorum, o de “mãe de todas as cabeças” (iyá ori). Este título tornou-a responsável pelo equilíbrio emocional, psicológico e espiritual do ser humano, provendo o homem da harmonia necessária para ter uma boa existência e convivência no aiê. Juntamente com Babá Ajalá, Obatalá considerado o “pai de todas as cabeças” (babá ori), é reverenciada na cerimônia do Borí.
Sua importância é tão grande que todos os iniciados, mesmo aqueles que não a têm como seu orixá principal, possuem uma ligação especial com ela, pois ao ser considerada a mãe de todos os orixás, torna-se avó de todos! E todas as pessoas iniciadas no candomblé, em um período de sua evolução religiosa, terão que assentar Iemanjá porque ela faz parte da corte dos orixás que reinam em todas as cabeças. Assim, ninguém merece mais do que ela o poderoso título de a “Grande Mãe” (Nlá Yágbá)!
Iemanjá representa a água que refresca e dá vida à terra, que ajuda na procriação e na geração dos novos seres. A água que apascenta, que acalma; a que cai do orum e depois a ele retorna, para descer novamente em forma de chuva – a “água divina e sagrada” de Olorum.
Como representação feminina, é primeiramente a mulher bonita, mas é também filha, mãe e esposa, símbolo mítico do papel inerente a todas as mulheres. Em uma outra fase, é guerreira, batalhadora, conquistadora e se transforma, quando necessário, em amante ardorosa, meiga e sensual.
Quando associada aos rios, Iemanjá mantém relacionamento com a agricultura, que precisa da água para subsistir e produzir, o que a aproxima de orixá Okô, o “patrono da agricultura”. Na parte da agricultura, interliga-se também com a colheita, principalmente a dos novos inhames, prato predileto de Oxaguiã, seu filho mítico.
No oceano, Iemanjá controla as marés através das fases da Lua e com a força do vento, que agita suas águas e faz com que elas se mostrem ora calmas, ora tenebrosas e temerárias. Em alguns momentos, tornam-se destrutivas, mas Iemanjá procura abrandá-las, propiciando aos pescadores abundância e variedade de alimentos para sua sobrevivência e seu custeio. É nas profundezas do mar que ela guarda suas riquezas e suas jóias, reinando com seu pai, Babá Olocum!
Nas lagoas e nos lagos, dentro de grandes florestas, interage com seus outros filhos que regem o comércio: são caçadores, pescadores, agricultores, guerreiros e guerreiras incansáveis, magos poderosos, grandes feiticeiras. Relaciona-se então com Babá Ajê Xaluga, Oxóssi, Ossâim, Logunedé, Ogum, Iroco, Oxumarê, Oxum, Iewá, Obá, e interage em suas variadas funções! Em uma forma mais idosa, a de Iyamí, tem relacionamento mais aprofundado com Logunedé, Ossâim e Oxóssi, obtendo deles conhecimentos e segredos das folhas e das árvores para suas magias e encantamentos. Como participante do grupo das Iyamís, Iemanjá está incluída no seleto grupo das veneráveis Grandes Mães, relacionando-se também com os Oxôs, os grandes feiticeiros das matas. Dentre estas mães, liga-se com Oxum, sua filha mais bela, que possui o controle sobre as águas doces e as cachoeiras, conhecida como a grande “Senhora dos Feitiços”!
Em territórios iorubas, essas mães-velhas encabeçam também a Sociedade Geledê, exclusiva das mulheres. Essa sociedade tornou-se muito restrita no Brasil, talvez ainda existindo nos recônditos do país. Mas essas Iyás velhas e poderosas são constantemente lembradas, saudadas e cultuadas nos nossos rituais, principalmente no Ipadê de Exu.
Iemanjá protege os recém-nascidos, inclusive os abicus, aqueles que já vêm para o aiê com uma data predeterminada entre eles para voltar ao orum. Como mãe-protetora, apazigua-os e tenta modificar essa situação, através de vários rituais, afastando-os e defendendo-os da morte (iku), ligando-se assim com Oiá, a mãe dos “filhos-abicus”. Outra grande mãe, Iamassê Malê, da família de Iemanjá, é a mãe de Xangô, o orixá que faz surgir do fundo do mar o fogo, em forma de vulcão, demonstrando a possibilidade de união de dois elementos da natureza tão poderosos. É Iemanjá abrandando com suas águas o furor de Xangô! E Xangô paparica, reverencia e idolatra essa mãe, dançando com ela, e para ela, em suas festas!
Através de Nanã, Iemanjá conheceu e adotou Obaluaiê, abandonado por esta sagrada “avó” da religião. Criado e tratado por Iemanjá de seus males corporais, de suas feridas, ele respeita sua verdadeira mãe, mas idolatra e venera a “senhora dos mares” e sua grande protetora. Para fazer-lhe um mimo e agradá-lo, numa forma de diminuir e reparar seu sofrimento, Iemanjá colocou Obaluaiê para descansar e dormir em uma cama feita com pérolas e fios de palha-da-costa! É mãe acalentando seu filho, ajudando-o a se sentir melhor e ensinando-o como dividir suas posses e seu poder!
Ligada à procriação e à gestação, Iemanjá possui uma grande relação com os orixás funfuns. Esse relacionamento é visualizado através da união indissolúvel de Obatalá com Yemowo, divindade funfun do grupo de Iemanjá. Talvez este seja o único casal a praticar a monogamia dentro dos grupos de orixás! Pois Iemanjá é uma iyabá que só aceita o sexo para procriação, negando-o como diversão e prazer. Partindo desta premissa pode-se entender porque ela considera uma afronta, um desrespeito gravíssimo, a prática do ato sexual na beira ou dentro de suas águas seja do mar, dos rios e até das lagoas. Até mesmo o simples ato de namorar nestes locais é para ela um agravo. E seus filhos, principalmente, não devem desagradá-la!
Em alguns momentos aparenta ser uma velha, em outros, nova; às vezes é calma, ás vezes, irascível. Assim é Iemanjá! No seu panteão temos diversas divindades, com personalidades, características, gostos e formas diferenciadas de culto.
Por reinar em vários tipos de água, Iemanjá tem a companhia de vários orixás que pertencem a elementos que se encontram próximo do seu. Sua ligação será muito grande com um tipo de Ogum, de Oxóssi, de Iroco ou de Ossâim que viva em faixas de matas ou florestas muito próximas ao mar, formando baías ou enseadas, cujas águas terão um tom esverdeado. Pelo reflexo das folhagens. Em alto-mar, em locais de menor profundidade, a água será de um azul-claro, ligando, então, Iemanjá com uma divindade do panteão de Orixalá. Nas enseadas perto de rochas minerais ou magmáticas, a água será escura. Neste local, Iemanjá está relacionada a uma qualidade de Ogum, de Xangô e de Exu. A partir destas informações, podemos visualizar o quanto Iemanjá está integrada, inserida e firmemente relacionada com todos os orixás!
Embora goste de vestir-se de branco, Iemanjá aceita também cortes bem clarinhas. Em algumas casas usa camisu, saia, pano-da-costa, ojá amarrado no peito, com laço para frente, e outro ojá na cabeça, com laçarote para trás. Usa adê com “chorão”, com contas de cristal. O cristal transparente usado em seu fio-de-contas representa os elementos ar e água. Em suas danças, faz movimentos com as mãos semelhantes às ondas do mar. Segura na mão direita seu alfanje e, na esquerda, o abebé geralmente feito de metal prateado, substituído às vezes por um leque feito de conchas. O seu abebé ou o leque tem o formato circular, porque simboliza sua ligação com a barriga e com a gravidez, ingerências da mulher. Seu igbá é feito geralmente em uma tigela branca, rosa, azul ou verde, em tons claros. Alguns tipos de Iemanjá são assentados em gamela, como Iamassê Malê e Iyalujá (ou Iyalojá), a “senhora do xêre”.
Gosta de receber seus presentes nas águas: perfumes, sabonetes, espelhos, bijuterias, jóias, artigos de toucador, água de cheiro, etc.,tudo que lembre o universo feminino! Também gosta que sejam enfeitados com fitas e flores, e também com alguns doces e frutas! Iemanjá gosta de ser mimada e admirada. Aprecia com carinho as pessoas que, ao pôr do Sol, caminham bem próximas à sua água, na areia molhada. Neste momento elas devem pedir sua ajuda e soluções, contando-lhe seus problemas! Faz bem jogar moedas no mar, para agradá-la, pedindo-lhe que retribua com prosperidade e riqueza.
Generalidades do orixá:
Como são chamados os seus filhos: Iemanjassi, iyá.
Dia da semana: Sábado.
Elementos: água e ar.
Símbolos: Abebé, leque e alfange.
Metal: Prata.
Cores: Branco, rosa, verde e azul-claro.
Folhas: Alfavaca, macaçá (catinga-de-mulata), capeba, etc.
Saudação: Odô fê iyabá (Odò fè ìyábá), (traduzido como “amada mãe do rio” ou “o rio ama a mãe”). Odô iyá (Odò iyá) (“mãe do rio”). Omi ô (“salve as águas”).
Seus filhos:
Os filhos e filhas de Iemanjá são pessoas muito protetoras e rigorosas, com tendências maternais. Tratam as pessoas como se estas dependessem de seus cuidados, exigindo em troca um tratamento do mesmo modo. Têm um senso de ordem muito grande e a hierarquização é para eles fundamental, pois faz parte da sua vida.
Instáveis, irritam-se facilmente quando desobedecidas em suas vontades. Preocupam-se com seu próximo e costumam ser generosos com quem gostam, ou quando é de seu interesse. Alguns são traiçoeiros, como o mar de Iemanjá, e conseguem enganar as pessoas com seus sorrisos francos e abertos! Voluntários, conhecem sua importância no grupo em que se inserem, dando suporte e auxiliando naquilo que for necessário. Não costumam ser vaidosos, mas gostam do que é belo e útil, apreciando uma vida confortável, sem extravagância. Testam as amizades, fazendo-as revelarem realmente quem são, procurando encontrar pontos fracos que possam desestabilizar a relação. Se isso ocorrer, os filhos de Iemanjá dificilmente darão o perdão; a amizade poderá continuar, mas o deslize não será esquecido! No geral, são pessoas de bom coração, sempre dispostas a ajudar o seu semelhante.
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